A colméia
Abro a janela do meu quarto e vejo um pouco de céu cinza. O resto de minha visão está tomada por um monstro cor de chumbo. O prédio em construção é pouco mais que um esqueleto, e ainda assim... Ele se eleva aos céus como uma coisa viva, e sua estrutura de ferro se abre em um sorriso de escárnio, zombando de todos nós.
Ele é único, o soberano da paisagem. Ouço o barulho da lenta construção, o ruído ininterrupto da britadeira, um martelar contínuo ao longe. Mas não vejo os operários; sei que estão ali, mas não posso vê-los. Estão nas entranhas do monstro, além dos vãos escuros que vislumbro daqui. Por fora é impassível, mas por dentro é como se fosse uma colméia, os homens trabalhando incessantemente na escuridão do concreto, para fazer o monstro crescer.
A face leste ainda não está pronta, e por isso foi coberta com um pedaço de plástico negro, o véu que deveria esconder a feiúra. Mas assim é pior ainda; aquilo parece uma asa de morcego enorme, que flutua ao sabor do vento frio. Agora alguém prendeu sua extremidade para que não mais descobrisse a barriga do monstro, e a asa se incha como a vela de um navio fantasma.
Não consigo parar de olhar, aquela coisa negra inflando e desinflando como um pulmão, e ao fundo, o zumbido que não pára.
Quero meu horizonte de volta.
Ele é único, o soberano da paisagem. Ouço o barulho da lenta construção, o ruído ininterrupto da britadeira, um martelar contínuo ao longe. Mas não vejo os operários; sei que estão ali, mas não posso vê-los. Estão nas entranhas do monstro, além dos vãos escuros que vislumbro daqui. Por fora é impassível, mas por dentro é como se fosse uma colméia, os homens trabalhando incessantemente na escuridão do concreto, para fazer o monstro crescer.
A face leste ainda não está pronta, e por isso foi coberta com um pedaço de plástico negro, o véu que deveria esconder a feiúra. Mas assim é pior ainda; aquilo parece uma asa de morcego enorme, que flutua ao sabor do vento frio. Agora alguém prendeu sua extremidade para que não mais descobrisse a barriga do monstro, e a asa se incha como a vela de um navio fantasma.
Não consigo parar de olhar, aquela coisa negra inflando e desinflando como um pulmão, e ao fundo, o zumbido que não pára.
Quero meu horizonte de volta.
2 Comments:
não entendo como este texto ficou sem comentário, eu lembro que eu adorei quando o li da primeira vez, e olha que faz muito tempo.
Angustiante.
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