28 novembro, 2006

Horizonte e além

Mãe, acho que o motor parou mesmo, veio a voz da menina por de trás do capô aberto. O que vamos fazer?
A Mãe, dentro do carro, passou a mão nos cabelos ao som de um suspiro pesado. O vento soprou suave, levando as palavras de volta. Não sei.
Só se ouvia a grama alta e verde se agitar com a brisa, rumorejo triste. O capô fechou-se com força, e a Filha, faces em fogo e as mãos de graxa, perfeito, estamos aqui, no meio do nada, nessa viagem ridícula, e deixou-se cair no mato fofo à beira da estradinha de terra. E eu nem queria vir. Eu não queria porque sabia que ia dar errado. Ir pra longe ia dar errado, muito longe, assim iam as palavras no vento, longe, muito longe.
A porta do carro bateu. Me desculpe, erro meu, mas você bem que poderia facilitar, não? Não, não posso! E quer saber, estou indo embora!
Assim contra o vento, os sapatos vermelhos recobertos pela poeira fina da estrada, na luz amarela e fraca do final da tarde, a Filha andava pela estrada que se esticava até o horizonte.
Ei, espera, você não pode me deixar aqui! Estamos juntas nessa, lembra? Mas a Filha fez que não ouviu, ou não ouviu mesmo, o vento soprava pra lá. A Mãe correu atrás da Filha, ei, nós vamos dar um jeito. Não vamos? Mas a resposta foi apenas o barulho cada vez mais fraco de passos à distância.
Raiva. Esperava mais de você! Desistir assim, que vergonha!
Os sapatos vermelhos deram meia volta. A boca se abriu para responder... quando um carro parou lá na frente.
Para onde vocês estão indo?
O vento sussurrou mais uma vez, agitando o verde em volta. A Filha olhou para a Mãe, olhou para a longa estrada pela frente.
Para longe. Para qualquer lugar.

3 Comments:

Blogger Utak said...

Pois é...
a história tem moral?
bonita história

novembro 28, 2006  
Anonymous Anônimo said...

gostei da história!
a imagem dela que veio na minha cabeça é surreal.

novembro 28, 2006  
Blogger Charles Bosworth said...

A moral é: se um dia seu carro quebrar na estrada fale sempre na direção do vento para ser ouvida.

Ou algo assim...

Finalmente Muri! Gostei bastante do que você fez. Na verdade, pode parecer meio estranho, mas era mais ou menos assim que eu imaginava a história, alguma coisa desse tipo.
Mas... você vai continuar, não? Quero saber como vai ser.

novembro 28, 2006  

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