14 janeiro, 2007

Diálogo

(não, não é baseado em fatos reais, exceto, talvez, algumas coisinhas tiradas das nossas adoráveis aulas de O.E).

Minha Conversa Com Uma Psicóloga

ou
Como Chafurdar em Simbolismos Baratos:

Ela: Então querida, tudo bem?
Eu: Ah, tudo.
Ela: É mesmo? Porque logo que você entrou aqui nesta sala, vi que seu olhar estava vago, e as suas costas um pouco curvadas.
Eu: Bom, eu tenho escoliose.
Ela: Ah sim, claro querida (pausa). Você sabe que tudo o que a gente disser aqui fica aqui, não é?
Eu: Er, que bom.
Ela: Mas então... Como você define seu lugar no mundo?
Eu: Meu lugar no mundo?!
Ela: Sim, como você acha que influencia as pessoas à sua volta?
Eu: Mais do que elas gostariam, acho.
Ela: Interessante... Mas agora me diga... O que você vê quando se olha no espelho?
Eu: Eu.
Ela: Sim, mas o que você realmente ?
Eu: Ah, claro. Eu vejo algo que freqüentemente me assusta.
Ela: O próprio "eu" pode ser amedrontador, não?
Eu: É. Quero dizer, não. Não é isso que você está pensando. Não é que eu tenha medo do meu próprio "eu", é que... Ah, eu só estava me referindo às espinhas e ao cabelo com vontade própria.
Ela: Claro querida (pausa). Sabe, encontrar o nosso caminho é tortuoso, é como encontrar um linda flor de lótus emergindo de um pântano.
Eu: Ah...
Ela: Sabe, tudo é uma questão de percepção, só isso. Se alguém pusesse uma venda nos seus olhos, o que você faria? E se colocasse uma na sua boca?
Eu (com um pouco mais de desespero): Ah...
Ela: Entendeu, minha querida?
Eu: Acho que sim. Foi muito interessante e instrutivo, mesmo, mas agora eu tenho que ir.
Ela: Claro que tem. Continuamos amanhã (pausa). E traga uma foto de um momento significativo da sua vida.
Eu (a voz já sai meio desafinada): Por quê?
Ela: Porque amanhã... Amanhã vamos discutir a sua relação com seus pais.
Eu (sussurro): Meu Deus!

11 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Curioso... a minha psicóloga nunca foi tão... tão... ruim! Mude de profissional agora mesmo...

Ah! Esqueci que se trata de uma obra de ficção.

(Comentário feito por quem vai à terápia há 9 anos - não sou louco!)

"Hey Mr. Scarecrow; in this never-changing view, of this ever-changing fields..."

janeiro 14, 2007  
Blogger Giulia T. said...

Muito bom!!!
hahahhahhaha

janeiro 14, 2007  
Anonymous Anônimo said...

o diálogo tá impecável! parabéns muri!

janeiro 15, 2007  
Blogger yuribt said...

Ah... até parece que nada disso faz sentido...

janeiro 16, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Wendao vive!

janeiro 16, 2007  
Blogger Giulia T. said...

"cabelo com vontade própria"!!!... O meu cabelo tem vontade própria, o seu... nem tanto.

janeiro 17, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Bá! isso é com certeza uma ida à sala da kátia, mas dúvido que seja à algum psicólogo que presta... A não ser um froidiano...(sem crítica)

É, bom texto! boa crônica, merece um prêmio

janeiro 18, 2007  
Anonymous Anônimo said...

"uma linda flor de lótus emergindo de um pântano"
Que lindo, que bela imagem para um discurso poético... Essa psicóloga devia ser poetisa!
Aliás, esse diálogo seria ótimo para um filme do Woody Allen, com a exceção de que ele provavelmente agridiria a psicóloga.

janeiro 18, 2007  
Blogger yuribt said...

Ou transaria com ela, Lipão.
Olha: o Woody Allen nesse contexto (transa com psicóloga) me lembra o Analista de Bagé!

janeiro 19, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Quando que entramos num contexto de sexo com psicólogas?

Isso me lembra um filme...
"Você me lembra uma flor que nunca cheirei, um lugar que nunca estive, algo que nunca vi e um filme que provavelmente nunca existiu" Vovô Simpson

janeiro 19, 2007  
Anonymous Anônimo said...

É verdade, Yuri. A agressão caberia melhor a um psicólogo homem. Mudando o sexo a coisa muda. Tudo questão de psicologia.

janeiro 19, 2007  

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