04 junho, 2007

Sidarta e os picos Aveludados

Era de conhecimento de todos que nas terras além dos picos Aveludados a vida era comum. Só seus habitantes não sabiam.

Sidarta brotou do chão batido, entre paredes de madeira barata. Sua mãe nunca conhecera, mas tinha impregnado no inconciente o calor de seu colo; sofrera do grito contido dos abandonados e desde cedo adaptou-se à vida crua.

Um dia quis fugir, esquecer o cheiro de enxofre. Isso foi quando acordou com o alfalto tingido de sangue ao seu lado. A galinha estava depenada, pescoço quebrado, multilada. A morte não mais podia ser ignorada.
Deixou nada para trás, porque só isso pertencia a ele. Vagou pelos bosques distantes. Uma pedra o aguardava, sob uma cerejeira. Nunca se viu um Sol tão brilhante; a relva exalava frescura. Sidarta sentou-se e cruzou as pernas debaixo da árvore. A iluminação nunca veio.
Não queria ser o além, o resto , a extremidade. Só desejava o dentro. Agora, sua busca era pelos picos Aveludados - ouvira falar do mito dos Deuses, no qual todos eram poderosos e personificados. Havia rumores que lá seus habitantes iam regularmente a exposições que exibiam todos os tipos de formas e cores.

O caminho não foi fácil, quase não havia comunicação entre as regiões. Após quarenta dias, chegou à base dos picos, mas encontrou algo que não esperava: filas e filas de pessoas circundavam o local, que era revestido de musgo. Olhando para cima se via o auge, estreito. O barulho era ensurdecedor.

Houve o breve silêncio antes do sinal. De repente, a montanha foi coberta por pessoas. Sidarta também começou a escalar com toda a força que lhe restava. Suas unhas quebradas e sujas ainda tinham o tamanho suficiente para segurar no musgo. A gente esperançosa estava se esmagando e pisando.

Poucos foram selecionados para entrar nos picos Aveludados e frequentar os supermercados do lado de fora. Muitos, como Sidarta, não chegaram perto, desfigurados pelos fatos. Só restou a chuva para limpar os corpos ao longo do monte.

Era de conhecimento de todos que nas terras além dos picos Aveludados a vida era comum. Só seus habitantes não sabiam.

Já havia a formação de uma nova multidão desiludida.

***

Considerando:
que a latrina está as moscas;
meu amigo B. me encorajou a postar tal texto;
que está um pouco clichê;
talvez esteja pouco claro, porque esqueço que as pessoas não estão na minha cabeça;
recebeu R pela corretora porque foge do assunto, que era consumismo;
que estou muito revoltada com isso;
espero que vocês gostem da leitura...

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15 Comments:

Blogger Thomás said...

Eu gostei bastante! Já disse que os corretores não sabem de nada. Vou ver se publico a minha no Copo (entrem, entrem!), que merecia muito mais um R por fuga de tema.

junho 04, 2007  
Blogger Utak said...

Gostei! É bem interessante. É uma critica bem suave na verdade e não foge nada ao tema. Na verdade não seria possível corrigir uma redação igual à essa. Tente fazer redações mais bobas - o enem, a fuvest, a unicamp, não aceitão obras primas, só aceitam textos que são facilmente entendidos em duas leituras - textos ruims. Tente ser pior da próxima vez.

junho 04, 2007  
Blogger Utak said...

ps.: Deve ser muito nojento usar uma latrina que estava às moscas...

junho 04, 2007  
Blogger Giulia T. said...

É só usar um pouco de desinfetante.

junho 04, 2007  
Blogger yuribt said...

Protestem! É absurdo ter esse nível de falta de educação no santa.
Distribuam Rs pelo colégio, em tudo aquilo que vcs acham que vai contra a formação plena e humanista à qual o santa se propõe.

junho 04, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Achei uma pena a corretora ter dado um R (ou foi só o seu texto bonito que estava no lugar errado) mas quem sabe ela, como eu, não entendeu direito o que acontecia nele (não estamos aí dentro, certo?), apesar d'eu me sentir embalado pelo ritmo gostoso da história.
Havia sim uma crítica ao consumismo. Meio trágica, mas... enfim, coisas trágicas acontecem mesmo.
Afinal, Refazer é uma crítica tão ruim assim?

junho 05, 2007  
Blogger muriel said...

que texto poético, giugiu! Acho que não tem problema ele não ser muito claro (leia-se óbvio) porque assim faz os leitores pensarem, coisa que, como todos sabem, os corretores são incapazes de fazer.

junho 05, 2007  
Blogger Giulia T. said...

Eu falei com ela, ela não tinha entendido algumas partes e como o meu texto tinha um caminho muito diferente dos outros ela ficou na dúvida...

Eles conseguiram limitar um tema como consumismo, como?
se é instrumento do sistema; é o caminho (busca) material substituindo o imaterial; deve sim ser pautado no indivíduo; é de certo modo, a facilidade, uma medida analgésica - não, é apenas um caminho. sei lá.

Realmente, eu já disse, entendo perfeitamente se não entenderem, confesso que escrevi várias partes que deixavam o texto muito mais claro, mas achei que ia perder a graça.

Não é trágico, só a morte é mencionada duas vezes, ou mais...

junho 05, 2007  
Blogger Giulia T. said...

não, refazer não é uma crítica NADA ruim - principalmente se o texto não se adequa a proposta e esse é o conceito do R. Mas neste período tenho que tirar B, porque sou uma aluna má - entreguei tudo atrasado, se entreguei, e não compareci aos atendimentos individualizados, e nem refiz nada - e queria me livrar disso.
LÊNIN-RÁ! LÊNIN-RÁ! LÊNIN-RÁ! LÊNIN-RÁ! LÊNIN-RÁ!

junho 05, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Gostei muito, Gigiu. Realmente não é uma redação para se fazer para o curso de produção (industrial) de textos. Os corretores querem narrativas com uma crítica explícita a um aspecto específico da sociedade. Não sei se eu peguei o sentido, mas o seu texto vai muito além da questão do consumismo, abordando a questão de "o que as pessoas buscam hoje, no lugar da iluminação".

junho 06, 2007  
Blogger yuribt said...

Ninguém me levou a sério??
Escrevam um grande R no plano diretor!!

junho 07, 2007  
Anonymous Anônimo said...

É isso aí!

junho 07, 2007  
Blogger Giulia T. said...

Eu levei a sério. Essa sugestão do R no plano diretor me pareceu muito viável.

junho 08, 2007  
Blogger Thomás said...

Yuri, acho ainda melhor que coloquemos Rs por todo o Santa, afinal, não é o plano diretor que não se adequa a proposta do Santa, e sim o Santa que não se adequa ao Plano diretor.

junho 10, 2007  
Blogger Ozzer Seimsisk said...

Concordo com o Thomás. Aliás, o texto tinha uma crítica ao consumismo ao meu ver bastante clara, mas talvez a corretora tenha se involvido mais profundamente com outros aspectos e deixado esse passar batido. Ótimo texto, Giulia ^^

julho 07, 2007  

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