O fruto, seu arquiteto e o elefante - Parte I
Pudera, o arquiteto chinês lavou-se no riacho ao lado de sua casa. O elefante, que estava na parede, segurava uma toalha amarela.
A tinta, ainda fresca, escorria e borrava o grande mamífero de tromba comprida; porém, nenhuma ação ou movimento podiam distrair Qí Jiã – que focava suas pupilas negras em um grande fruto vermelho.
Isolado, o riacho agitava-se sutilmente no ritmo sincronizado que o construtor, em um esforço inexpressível, exercia alguma pressão pelo seu diafragma, comprimindo somente o ar necessário para o equilíbrio.
Surpreendentemente, a última folha da cerejeira, num momento único, desprendeu-se do ramo mais alto da árvore; planando entre os átomos invisíveis. Até atingir a superfície das águas, o tempo pareceu infinito e ao mesmo tempo imóvel na natureza.
No momento preciso, o arquiteto soube que seu banho havia terminado.
Despediu-se do fruto de que seus olhos não conseguiam, nem podiam se separar. Enfurecida de ciúmes e inveja, a cereja aproveitou toda a brisa que pairava ao entardecer para girar, o mais rapidamente que pode, em sua própria sustentação.
A tinta, ainda fresca, escorria e borrava o grande mamífero de tromba comprida; porém, nenhuma ação ou movimento podiam distrair Qí Jiã – que focava suas pupilas negras em um grande fruto vermelho.
Isolado, o riacho agitava-se sutilmente no ritmo sincronizado que o construtor, em um esforço inexpressível, exercia alguma pressão pelo seu diafragma, comprimindo somente o ar necessário para o equilíbrio.
Surpreendentemente, a última folha da cerejeira, num momento único, desprendeu-se do ramo mais alto da árvore; planando entre os átomos invisíveis. Até atingir a superfície das águas, o tempo pareceu infinito e ao mesmo tempo imóvel na natureza.
No momento preciso, o arquiteto soube que seu banho havia terminado.
Despediu-se do fruto de que seus olhos não conseguiam, nem podiam se separar. Enfurecida de ciúmes e inveja, a cereja aproveitou toda a brisa que pairava ao entardecer para girar, o mais rapidamente que pode, em sua própria sustentação.
***
Quisera, Qí Jiã chegou à porta de bambu, esquecendo-se de esboçar palavras de bons sonhos ao elanfantinho – que nessa hora irritou-se, esticou-se até o pé de bananeira ao seu lado e fundiu-se, formando um borrão verde-amarelado no alicerce de madeira.
Ao se deitar, realizou seu sonho mais recente e legítimo; sentir o pequeno lençol de algodão lhe cobrir, mesmo que lentamente, seu corpo, no qual ainda restava um resquício de gotinhas d’água.
Ao se deitar, realizou seu sonho mais recente e legítimo; sentir o pequeno lençol de algodão lhe cobrir, mesmo que lentamente, seu corpo, no qual ainda restava um resquício de gotinhas d’água.
Marcadores: conto brevidade
8 Comments:
Este texto é de uma delicadeza violenta.
Mais, mais!
concordo com a Muri.
só tem uma coisa meio estranha, tem umas partes que me lembram muito um texto que eu escrevi outro dia, vou postar depois e vocês veem se vocês também acham.
Deliciosa absurdez zen-technicolor.
Acho que você terá que desenhar para eu visualizar (só estou pedindo porque eu sei que você gosta de desenhar).
ah, desculpe lipão, mas é algo que nem eu consigo desenhar, ou, melhor, o desenho teria o mesmo efeito que o texto, e não ia ajudar.
esse não é um texto para clara compreensão, é uma sugestão de sonho...
Giu Giu!
Bem interessante (mas maluco como sua autora) seu texto. Cheio de propriedades organoléticas e com características sinestésicas. Endosso o pedido de F. Freller.
Paradoxal
??
Gostei... e... é, muito "sonhal"
Esse texto tem essência de "sonhidão", um devido "sonhês"
Postar um comentário
<< Home