14 agosto, 2008

Era um banheiro de McDonalds...


Como muitos de vocês devem ser capazes de imaginar, quando se está viajando por um país distante, com horários irregulares e passando a maior parte do dia fora do hotel, é, muitas vezes, preciso recorrer à famigerada cadeia conhecida como McDonalds para alimentação e, por que não, para dar uma passada no banheiro. Infelizmente, isso é válido também para a França.

Os banheiros dos McDonalds franceses são, porém, um tanto quanto fora do comum e eu diria até que a experiência de tentar fazer uso de um deles foi, de várias maneiras, traumatizante.

Em  primeiro lugar porque, diferentemente da maioria dos estabelecimentos comerciais, este em particular só permitia a entrada no banheiro daqueles que ali consumissem alguma coisa. "Mas como?", vocês devem estar se perguntando. Pois bem, o controle era feito de forma muito simples. O banheiro era fechado por um sistema magnético de alta tecnologia que só podia ser aberto mediante a digitação de um código em um painel do lado da porta. Código esse que os fregueses recebiam por escrito na nota fiscal de sua compra e que tinha validade limitada em algumas horas.

Como vocês podem ver, a recepção nesse toilete era bastante hostil, e as coisas só pioraram. Quando finalmente consegui entrar, me senti em um bunker, em parte por causa da segurança reforçada na porta, em parte porque o lugar tinha o formato de um pequeno corredor, sem nenhuma abertura para o mundo, escuro e austero; dava até calafrios. Mas, como já foi dito, o fato de eu estar em viagem me forçava a relevar certos aspectos desagradáveis do lugar e ir em frente. Caminhei pelo caminho entre as paredes frias e cheguei até a porta do cubículo atrás da qual eu pensava estar a latrina.

Empurrei vagarosamente a porta e, ao olhar para dentro, um susto! Faltava algo alí, não havia latrina alguma. Depois de me recuperar do choque, olhei melhor para o que se encontrava diante de mim e pude compreender o que via. No lugar de uma privada, bonitinha e branquinha, onde pessoas normalmente se sentam, havia uma espécie de quadrado de porcelana no chão, com dois retângulos antiderrapantes para apoiar os pés entre os quais havia um buraco, um cano aberto cheio de água. Aquilo era um tipo de latrina em formato primitivo, apesar de feita com materiais modernos, que eu nunca pensei que eu veria ao vivo, muito menos em um país dito desenvolvido. Creio que eles esperassem que o usuário ficasse de pé nos retângulos aderentes e se agachasse para fazer as necessidades naquela fossa.

Eu, que não estou acostumada a fazer xixi de pé, desisti e resolvi esperar pelo próximo banheiro, esperando encontrar algo mais civilizado. Mas depois, comecei a refletir, será que quem fez aquela aberração da natureza pensou nos deficientes físicos?
Era mais ou menos assim...

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9 Comments:

Blogger muriel said...

em primeiro lugar, gostaria de parabenizá-la pela eloqüência ao descrever tal pitoresca experiência.

agora, que estranho encontrar latrinas ao estilo turco em McDonalds parisienses! Se fosse no Japão, onde eles usam coisas desse tipo porque é considerado impróprio e impuro encostar no vaso etc, até seria compreensível. Mas cagar de cócoras não me parece um hábito tipicamente francês (pode ser que o meu conhecimento de cultura francesa seja mesmo muito deficiente).

agosto 15, 2008  
Blogger Giulia T. said...

Isso pode ser muito bem trabalhado sob um olhar antropológico (hahahahha); ao que parece, esse tipo de latrina é mais higiênico. e se não me engano, é muito comum na China também.
Mas, o que é um provavel enfoque academico é a construção das noções de técnicas corporais: basicamente, deve haver um treinamento, desde a infância para a utilização desse objeto, e até uma mecanização do movimento.
E uma pergunta: Camila, este McDonalds estava situado em algum bairro com certa frequência estrangeira?

agosto 15, 2008  
Blogger Camila T. said...

Higiênico ou não, eu concordo que ele só pode ser usado se a pessoa tiver treinamento desde a infância.

ele ficava perto da catedral de uma cidade turística cuja principal atração era a catedral, então ele era frequentado por estrangeiros turistas. Por que?

agosto 15, 2008  
Blogger muriel said...

Esse tipo de latrina só é mais higiênico se a pessoa souber usar (e bem). Acho que o que a Giulia quis dizer é que se o McDonalds estivesse num lugar muito freqüentado por orientais, por exemplo, isso poderia explicar a existência dessa latrychão.

agosto 16, 2008  
Blogger Utak said...

É bem possível que o Dono do local fosse algum oriental, ou alguma oriental, cujas necessidades são feitas em pé. Ou apenas havia uma camera no teto, rindo da sua cara enquanto você tentava mijar de maneira errada e provavelmente errar. Os japoneses donos do lugar devem passar horas do dia rindo das pessoas que, pagaram para mijar ou cagar e tiveram que cagar de cócoras.
Tenho uma experiência parecida, na frança mesmo, eventualmente conto para vocês (óbviamente não era pra cagar no chão)

agosto 18, 2008  
Blogger Camila T. said...

seguindo a teoria dos orientais, reparem na pose do Ronald no começo do texto...será que, ao escolher essa foto, meu inconsciente estava tentando me dizer alguma coisa?

agosto 21, 2008  
Blogger Francisco Castro said...

Olá, gostei muito do seu blog.

Parabéns!

Um abraço

agosto 27, 2008  
Blogger Lipão said...

Pelo mapa, a Latrina parece ter alguns visitantes parisienses. Talvez eles possam esclarecer esse mistério.

agosto 27, 2008  
Blogger Julia said...

eu me deparei com um banheiro assim na Itália, numa cidadezinha perto de Padova. Diferentemente de você, tive de enfrentar essa novidade, pois era a primeira parada depois de umas 6 horas de viagem...

outubro 07, 2008  

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