07 janeiro, 2007

O Senhor de Peruíbe

O garoto corria abrindo caminho na mata. Debaixo do sol escaldante, ele afastou os cachos da testa suada. Um pouco à frente estava uma criança pequena; olhando mais de perto se via que era uma menina, a única por ali.
O menino finalmente conseguiu alcançá-la e segurá-la pela cabeça (o que a fez ficar vermelha de raiva até as orelhas).

— Eu sou o Caio – Ele olhou para a pessoinha se debatendo embaixo da sua mão. Então era uma menina. Seus cabelos cacheados louros (tá bom, castanho claros) estavam presos em um rabicho na nuca. Ela tinha lábios grossos, que se encontravam entreabertos, enormes olhos verdes e as bochechas salpicadas de sardas. Não, ele não ia se amedrontar com aquele bico e aquelas sobrancelhas franzidas!

— E você, qual é o seu nome?

— Que te importa? – ela cruzou os braços emburrada – Na escola me chamam de Porquinha.

— Porquinha?! – ele caiu na gargalhada, se distraindo e dando à garota uma chance de roubar o chapéu de palha que se encontrava sobre sua cabeça.

— É, Porquinha. E com muito orgulho! Por sinal, os porcos são animais muito limpos, mais que os gatos.

— Desculpa, eu não quis ofender.

Os dois caminharam lado a lado em direção à praia. O mar azul estava calmo e a brisa aliviou o calor dos dois depois da corrida. Eles seguiram ao longo da orla; atrás deles a praia seguia até onde a vista alcançava. Na outra direção, eles encaravam uma montanha, o ponto mais alto visível. E à esquerda, o mar se estendia sem o menor sinal de civilização até o horizonte.

— Meu pai me diz que eu não posso tomar muito Sol se não eu posso ficar com câncer de pele. Vamos até aqueles coqueiros ali na frente.

— Você vai queimar o seu rabinho, Porquinha? – e ele começou a rir dela enquanto ela cruzava os braços e fechava a cara de novo. – Desculpa – ele balbuciou tentando se controlar – O que nós precisamos mesmo é nos organizar, porque os outros não podem ficar perdidos por aí, sozinhos, especialmente os menores. Nem nós, imagina o que pode nos acontecer num lugar como esse, os animais selvagens. E ainda sem adultos para...

— Você sabe o que aconteceu com o piloto?

— Não, eu acho que ele deve ter pulado do avião antes do acidente. Mas veja bem, eu até entendo o lado dele, não haveria pára-quedas suficientes para todos os meninos, ele só estava tentando salvar sua própria vida. Ele pode ter filhos que...

— E os outros meninos? – interrompeu Porquinha de novo.

— Eu acho que ouvi uns gritos e vi alguns garotos perto do avião logo depois da queda.

Nesse tempo eles já tinham alcançado os coqueiros, que rodeavam uma lagoa razoavelmente grande, que parecia ser profunda, mas tinha águas claras. Porquinha, tendo aprendido a lição, não quis deixar Caio continuar:

— Você não quer dar um mergulho, não?

Ele achou a idéia boa e começou a tirar as roupas (ué, eles estavam fugindo da guerra, não dava pra pegar sunga e tal). Enquanto a menina, que estava sem disposição de nadar, se acomodava embaixo de um dos coqueiros, gritava para seu companheiro:

— E enquanto você estiver na água, por que você não pensa em um bom jeito de chamar os outros?

A água estava quente e Caio não se refrescou muito. Mesmo assim, o mergulho valeu a pena, o menino encontrou um tesouro, brilhando na areia no fundo da piscina. Uma concha delicada, branca, fina, porém resistente, bela (crianças, essa é a representação da civilização!). Caio achou que se soprasse a concha conseguiria emitir um som que atrairia todas as outras crianças para onde ele estava.

Ele mostrou seu achado a Porquinha, que logo tomou a relíquia de sua mão. Mas seus pequenos pulmões não foram capazes de fazer qualquer som. Mesmo o outro teve dificuldade em produzir algo sem ficar vermelho e ofegante. A nota que ressoou por toda a praia foi clara e profunda, lembrando a chaminé de um navio zarpando.

Pouco a pouco, meninos de todas as idades começaram a surgir da mata em todas as direções, curiosos para saber de onde vinha aquele clamor. Os que chegavam se deparavam com Caio, segurando sua poderosa concha, com os cabelos castanhos escurecidos pela água. Ele estava de pé numa pequena elevação da areia, com uma das mãos na cintura, em uma pose de Peter Pan, e o olhar firme, corajoso.

Os moleques, a princípio barulhentos e bagunçados, se sentaram em troncos velhos de coqueiros ou mesmo no chão como os alunos diante do professor. O mestre, por sua vez, encarou aqueles que paravam em sua frente; depois de se certificar de que ninguém mais se aproximava ele resolveu iniciar seu plano de civilizar aquele grupo.

Em primeiro lugar, ele propôs que cada um dissesse seu nome. Era uma pena que não tivessem papel, se não eles poderiam anotar tudo e fazer uma chamada a cada manhã.

Caio começou, ele mesmo se apresentando. Depois Porquinha, todos olharam assustados para aquela intrusa; mas ela se entrosou rápido. Havia também um menino de óculos (e esse é o símbolo da sabedoria): Manfrim; outro com um cabelo grande e esquisito que cobria metade da cara; um par de gêmeos, não idênticos mas muito próximos, tanto que ficaram conhecidos como Bacchiemarcel, como se fossem uma pessoa só (hahaha, a vingança é doce); e muitos mais. Bacchi não se lembrou de metade.

De repente, as apresentações foram interrompidas pelo choro de um dos meninos mais novos. Ele se jogara no chão, encolhido e gritava:

— O monstro! O monstro serpente!

Caio se aproximou, um corredor silencioso se abriu para ele.

— Mas que mostro? O que aconteceu?

— Eu vi ele saindo do meio das plantas.

Porquinha chegou em seguida e tentou acalmá-lo perguntando quem ele era.

— Denis (...). Av. (...). São Paulo. 3000-0000. Denis (...). Av. (...). São Paulo. 3000-0000...

Até que ele caiu no sono. Os outros começaram a rir do pobre Denis, só que com certo nervosismo por causa da idéia de um monstro na floresta. Eles deixaram o garotinho aos cuidados de Porquinha e voltaram sua atenção para uma mancha preta que vinha pela praia.

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17 Comments:

Blogger muriel said...

Isso vai ser muito engraçado...

janeiro 08, 2007  
Anonymous Anônimo said...

HAhAHAHAHhAhAHAHAhAhAHaHahAhAhAHaHaHAhAHHaaAHAHHAHAHAHAHAHHAHHHHHHHHAHAHAHHAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHAHAHHAA
Meu Deus, ficou muito bom cacá! Melhor que eu imaginava! e você achou um porquinho perfeito! AUHauhAUHauAHuAHuauHAUHAUhAuHAuAHUAHuAHUA
isso vai ser ilário!!!!
quero só ver meu papel!

janeiro 08, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Já estou ficando com medo do que vai vir. Por favor, não me deixem ler as partes de selvageria! Sou sensível a isso! Aliás, por que eu fui ler? Já estou imaginando uma piscina, uma briga, água espirrando e... Por favor, não me deixem ler o resto! Posso ter um ataque cardíaco!

janeiro 09, 2007  
Anonymous Anônimo said...

hahahahahahahaahahahahahaha

janeiro 09, 2007  
Blogger Giulia T. said...

chiqueirooo, chiqueirooo, chiqueiro, festa no chiqueiroooooo!!!

janeiro 09, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Só quero ver quando o paraquedista cair nessa "ilha"...

Sei que eu não serei, afinal, sou sempre esquecido (vocês nunca vão ouvir o fim disso)...

janeiro 11, 2007  
Anonymous Anônimo said...

B! Nao fale assim
A Giugiu diz que foi o Nono que esqueceu de te ligar! portanto, culpe ele! nós tivemos pouca participação na convocação das pessoas!

Jogue a culpa em alguém e odeie ela pra sempre!

janeiro 11, 2007  
Anonymous Anônimo said...

**(pecebam o horário desse comentario e descontem o meu estado de conciência)

janeiro 11, 2007  
Blogger Giulia T. said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

janeiro 11, 2007  
Blogger Giulia T. said...

"A Giugiu diz que", não.
O que aconteceu:
Eu fui a única que lembrei do B. e sugeri que o nonô o convidasse, e por isso eu coloquei o nome dele na lista com o telefone, caso o nonô aceitasse minha sugestão. O nonô não convidou porque NÃO quis.

ps. Fico muito brava que pessoas digam pro B. que fui eu que não convidei (sem saber de nada), pior: sem me perguntar o que tinha ocorrido!!!

janeiro 11, 2007  
Anonymous Anônimo said...

quero um dia filmar esta história!!



(aqui em buenos aires tá tudo lindo. um calor do cao, barulho em toda hora e uma cidade maravilhosa. hoje fui em puerto madero, casa rosada e la boca! e aproveito para dizer que encontrei presentes da cara de algumas muitas pessoas aqui!)

saudades de todos,
becerro

janeiro 11, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Saúdo-te, grande Betzacoatl, em sua estadia em Buenos Aires, em resposta à linda saudação que me fizeste quando estava eu no Chile.
(Perdão, senhoras da Latrina, sei que este blog não é feito para mandar saudações para coleguinhas, mas também não está proibido levando em consideração as regras do primeiro post.)

janeiro 12, 2007  
Anonymous Anônimo said...

fico daora, ja to esperando pelo proximo capitulo...
nao se esqueçam de que nosso lider caio tem que ser venerado com o saudoso hino VILELA, VILELA, VILELA, VILELA, e por aí vai...
é só uma sugestao, beijos gordos

janeiro 12, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Não é "Vilela, Vilela"! Tem que ser "Branca, Branca, Branca!"

Essa Latrina está me soando como uma pseudo-revolução latino-americana; ou melhor, Latrino-americana...

janeiro 12, 2007  
Blogger Giulia T. said...

Miss PIGGY!!!

janeiro 12, 2007  
Anonymous Anônimo said...

Caros companheiros , não vou me apresentar como líder popular (convenhamos que o termo está em alta) e nem redarguir jamais no tirânico tom dos ditadores. Gostaria de dizer, no entanto, que a posição de condutor (um eufemismo para mandante) me é bastante desejável. Para isso assim ser, lembrando do fragmento marítmo civilizatório, vocês precisam me escolher democraticamente.hehehe
Cacá, você merece os maiores parabéns....Sua paródia é o máximo!
Estou esperando pelo próximo capítulo da obra!!!!

janeiro 21, 2007  
Anonymous Anônimo said...

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novembro 24, 2012  

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