Manifesto de uma agregada - Parte VI
Arquitetura da destruição
É incrível assistir ao fenômeno da proliferação de lançamentos imobiliários.
A maioria das famílias suburbanas é composta por pai, mãe e um casal de filhos. A dondoca tem como inspiração ser a futura primeira-dama de Barueri, enquanto o patriarca trabalha em um dos galpões, que prolifera um cheiro de tutti-fruit pelos ares. Os filhos têm como modelo os pais.
São mais de 5000 casas naquele humilde pedaço de paraíso sobre a Terra; a maior parte dos moradores declara-se branca e possui um animal domesticado.
Nada como sair às ruas com seu belo cachorrinho e admirar as maravilhas da arquitetura atual: palacetes ao estilo “Noviça Rebelde”, casas americanas com um toque de “Anos Incríveis” e latifúndios à “Fascio di Combattimento”. Porém, o au concours do condomínio e grande lançamento é uma área elevada reservada para grandes terrenos que abrigam mansões com vista para os campos aveludados de golfe.
Os jardins possuem aparência plástica; faunos e deusas seminuas caminham entre os pássaros que nascem entre primaveras e azaléias.
“Veja Banzé! A Branca-de-neve e os sete anões. Olha! A bruxa má está mais distante, atrás de um arbusto. Está bem, deixe seu presente para ela” .
Os sapos e os cata-ventos quixotescos também convivem em paz com as fontes e alvos pedregulhos.
É como se tudo estivesse sintonizado na Cultura FM.
Marcadores: Manifesto
10 Comments:
Também penso demais nesse fenômeno imobiliário, demais - e as questões são muito parecidas.
Já pensou naqueles prédios novos que saem todos os dias no jornal? O que seria "varanda gourmet", "garage band" ou "home spa"? Para mim é grego. E desnecessário ao extremo.
sim, hoje eu estava me divertindo com eles... também há uma nova modalidade: os lançamentos eco-fascistas, como diria geo-j-bentes.
(também não faço idéia do significado desses termos)
é por isso que eu estou na comunidade dos arquitetos terroristas...
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Já pensou morar em uma mansão com tema Monte Olimpo? Deve ser da hora.
A Giugiu conseguiu escrever um texto misturando tudo ao mesmo tempo, ao quadrado, mas ficou bom.
Agora s� espere por uma quest�o na Fuvest.
O que mais me agoniza é passar por um prédio em construção e ver um monte de homens que vivem o avesso do prédio, sem nunca vestirem a roupa final, ou seja, nunca possuirão ou viverão num lugar daqueles. Constroem realidades distantérrimas (que chique) daquelas em que saíram e vivem. Trabalham sábados e feriados desde antes do sol nascer, até muito depois dele se pôr... não sei porque isso tudo me lembra o Egito e suas pirâmides... já pensei em dizer pra eles fazerem greves, mas provavelmente mataria todos eles com isso...
Caro anônimo, com sua expressão visceral, entendo o quer dizer.
Sobre o ponto de vista apresentado, concordo e acho muito pertinente.
Há algum tempo nesta latrina, a Muri escreveu um belo texto sobre isso, que na época não recebeu muita atenção, pois a latrina estava apenas começando, mas dê uma olhada: http://a-latrina.blogspot.com/2006/04/colmia.html
Definitivamente vale a pena!
See trough baby blue, see trough...
Surpreso fico ao deparar-me com algo tão próximo e ao mesmo tempo distante. Devo confessar que é dotada de uma extrema habilidade. Consegue interpretar e expressar algo que a muitos "homo urbanus" incomoda, mas... trata-se apenas de uma questão de posicionamento político-partidário!
PS. De uma olhada em: http://voxlatrinae.blogspot.com/
aos últimos comentários;
* eu adoro essa música do bob dylan!
*eu não sei quem vc é, mas participou do senado...
de qualquer forma, eu agradeço a ambos por escreverem nesta fétida latrina!
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