22 julho, 2007

Letra B

Queridos latrineiros, a Malta não se esqueceu do Maravilhoso (?) Mundo dos Blógues!


B
Babalaô: 1. Especialista em magia negra no culto iorubano. 2. a melhor pessoa a se recorrer quando você descobre que aquele "amigo" continua fazendo da sua vida uma novela virtual. 3. Sacerdote muito procurado por aqueles que sofrem com um amor não correspondido e já se cansaram de escrever sobre isso nos seus blógues. Ver: dor de corno
Babel: 1. é notável a semelhança entre a blogosfera e esta cidade bíblica que representa o caos. O que aparentemente é uma comparação desmedida, revela-se como uma excelente ferramenta para a compreensão deste fenômeno que é a proliferação dos blógues.
A construção da torre, que buscava o alcance do céu, despertou a ira de Iahweh, que como castigo impôs a confusão, fazendo com que seus trabalhadores falassem línguas diferentes, de modo a não se entenderem. Assim, foram obrigados a abandonar a obra e se dispersarem pela Terra. Contudo, ao contrário do que se possa imaginar, os Homens não abandonaram seu sonho prepotente por definitivo e este foi retomado a partir dos blógues; neste mundo virtual, a torre não se extinguiu. Além das diversas línguas utilizadas por blógues em todo o mundo, seus associados continuam querendo ser Deus: ora por eternizarem seus pensamentos e vida - com uma ponta de egocentrismo e/ou buscando sempre ser o diferencial no mundo - ora por este veículo oferecer onisciência, onipresença e onipotência. 2. designa o blógue escrito em muitas línguas; nos posts há uma verdadeira salada de termos portugueses, espanhóis, franceses e anglo-saxões, entre outros. Também podem ser encontradas palavras em japonês, no caso de o blogueiro seja viciado em cultura nipônica. Enfim, o blógue babel concentra vocábulos das mais diversas origens, o que costuma ser o resultado vergonhoso da pretensa fluência do blogueiro em uma miríade de idiomas.
Ver: anglo-saxã, língua
Bacaxi: ótima alternativa para "frutas que começam com B" nos jogos de stop. Acredite, todos os outros escreverão "banana".
Begônia: usar esta flor na lapela é, além de um atentado brutal ao bom gosto, aparentemente essencial para alcançar a felicidade, sem esquecer, é claro, de brincar com rinocerontes.
Balzaquiana: Diz-se da mulher na faixa dos trinta anos, ainda muito jovem para encerrar as conquistas amorosas mas que já começa a duvidar dos próprios encantos devido ao peso dos anos. Seja para se sentir mais segura em relação à força da gravidade, seja para mostrar como adquiriu cultura ao longo de três décadas, a Balzaquiana gosta de rechear seu blógue com poesia aparentemente profunda, bela e delicada; no entanto, os versos em questão quase nunca são assim - pelo contrário. Se são, não costumam ser de autoria própria, e é preciso uma verdadeira escavação arqueológica nos arquivos do blógue para encontrar um texto de fato escrito pela Balzaquiana. Esse gosto pela "beleza e poesia do mundo" também se reflete no visual do blógue, que costuma ser em cores pastéis e ter muitos desenhos "fofos". Fotos de pores-do-sol também são freqüentes. Os escritores preferidos costumam ser Alberto Caeiro, por "ver o mundo com os olhos de uma criança", e Clarice Lispector, pela sensibilidade e subjetividade de seus textos, que teoricamente traduzem perfeitamente os sentimentos da Balzaquiana. Ver: aspas
Banalização: No mundo moderno é um fenômeno muito comum, que tem na proliferação de blógues uma das suas maiores representações. A banalização caracteriza-se pela perda de relevância em decorrência da multiplicação e reprodução desenfreadas, seja de um objeto, assunto ou idéia. Com os blógues não é diferente; para criá-los não é necessário mais do que níveis medíocres de capacidade mental e coordenação motora para uns toques no teclado e cliques no mouse; logo, qualquer pessoa com acesso à Internet pode se aventurar na maravilhosa e terrível blogosfera e sentir-se incluída (ilusoriamente, é claro) no mundo virtual. Assim, poucas coisas se tornaram tão banalizadas (e conseqüentemente irrelevantes e patéticas) quanto os blógues - com exceção, talvez, do comentado aquecimento global. Ver: Internet, blógue, blog, espetáculo, sociedade do.
Bentinho, complexo de: Este distúrbio, não originado mas popularizado em Matacavalos, norteia a produção de muitos blogueiros, principalmente os do sexo masculino. Assim como no complexo de Édipo, o homem estabelece uma ligação compulsiva com a mãe, que passa a ser o modelo (inalcansável) para todas as mulheres do mundo. Contudo, o complexo de Bentinho se distingue do de Édipo pelo flagrante egocentrismo e pela desconfiança, especialmente em relação ao sexo feminino. Ao deparar-se com uma situação ou incidente desagradável, o blogueiro Bentinho assume uma atitude blasé, e isso freqüentemente se reflete nos seus textos. Ver: blasê, dor de corno.
Bipolar, transtorno: doença psiquiátrica com uma incidência muito maior do que se pensava na faixa entre 13 e 26 anos. A bipolaridade se manifesta na discrepância gritante entre os conteúdos dos blógues (especialmente os confessionais) e o comportamento do blogueiro na vida real. Ex: Um blógue é recheado de posts sobre a angústia de viver, a solidão na adolescência e outros temas igualmente tediosos. A melancolia e desespero que emanam dos textos é tanta que se supõe que o blogueiro em questão está à beira do suicídio. E então... surpresa! Ao ver o sujeito em carne e osso percebe-se que ele é desenvolto, expansivo e alegre. Sim, aquela mesma pessoa do blógue depressivo. Só há uma explicação: transtorno bipolar.
Bisbórria: Pessoa repelente, medíocre e insignificante, que geralmente encontra consolo e auto-indulgência na criação de um blógue. Ver: bobo, blogueiro, blógue, bloguemo.
Blasê: do francês blasé. 1. é o blogueiro que demonstra sutil indiferença ao que o rodeia. No início foi vítima de uma grande experiência negativa e desiludiu-se com o mundo. Ao invés de revidar com atitudes destrutivas, raivosas ou rebeldes, ele se refugia numa superioridade passiva. Seu lema pode ser comparado com o ensinamento nº 23 dos Anacletos do Lótus Branco, "se o mundo dá as costas a você, você dá as costas para o mundo." 2. É aquele que não suja as mãos com um blógue próprio; prefere vagar pela blogosfera e deixar comentários sucintos/pretensamente irônicos em blógues alheios.
Blog: 1. Diz-se do jornal/diário virtual escrito em inglês. 2. Um blog muito bom mesmo, que combina textos interessantes com gráficos bonitos e de bom gosto. É um blog que faz por merecer estas quatro letrinhas em itálico. A Malta apurou que blogs assim são cerca de 0,001%da blogosfera. Muitos querem ter blogs, mas só tem blógues.
Blógue: é o que os blogueiros mais abominam, e invariavelmente possuem. Blógue é uma verdadeira latrina virtual, e o contrário de blog - é risível tanto em relação ao conteúdo (na maioria das vezes a não-tão-interessante-assim vida do blogueiro) quanto na forma (geralmente templates de uma breguice atroz, ou então um dos modelos pobres oferecidos pelo próprio Blogger). O curioso é que muitos blogueiros odeiam que digam que eles têm blógues, sem saber que rejeitar o termo é a prova cabal que é mesmo um blógue o que se possui. A Malta estima que quanto maior a ojeriza à palavra blógue, menores as chances de se ter um verdadeiro blog. Ver: blog, banalização.
Blogueiro: ser preocupantemente desocupado e bobo, que por alguma razão insondável extrai um prazer doentio em expôr suas fezes intelectuais na Internet, em sites particularmente banalizados e ruins chamados blógues. Ver bobo, blógue, banalização, bisbórria, bacaxi.
Bloguística, etiqueta: a famosa prática do "uma mão lava a outra". Ao que parece, as pessoas realmente se preocupam em parecer educadas para assim conseguir algum benefício. No mundo dos blógues não é diferente. A etiqueta bloguística caracteriza-se por práticas duvidosas como a agregadagem e em muitos sentidos se parece com a cosa nostra. De modo geral, o que impera é a troca de favores: se alguém comentou no seu blógue é de bom tom comentar no da pessoa. É claro que comentar em blógues alheios com segundas intenções é prática comum. O mesmo acontece com os links, e muitos blogueiros espalham os nomes de seus blógues nas redes de esgoto de terceiros através de meios escusos. No final, o que importar é sorrir (mesmo que através de emoticons) e dizer: "adoooooro o seu blógue, querida!" Ver: agregadagem, anfitrião, apadrinhamento.
Bobo: Poucos termos definem tão bem tantos blogueiros. O blogueiro bobo vive de escrever textos medonhos e risíveis, que acredita serem ótimos. Na verdade, um blogueiro bobo é uma pessoa boba; costuma viver em um mundo próprio e quando se aventura no mundo real é um desastre, devido à sua completa inabilidade de compreender as coisas, especialmente as óbvias. No entanto, o bobo dificilmente reconhece sua própria bobeira; ou se acha um espertão que, além de escrever maravilhosamente bem, sabe fazer tudo ou chega à conclusão psicologicamente reconfortante de que o problema são os outros, não ele. Atenção: exatamente por não passar de um parvo, este tipo de blogueiro geralmente nem consegue se alçar à condição de blasê. Ver: blasê, borboletear, esquizóide, escapismo.
Borboletear: Passatempo preferido de muitos lepidópteros e blogueiros. O resultado disso se reflete nos blógues - o número de posts novos está ligado à freqüência com que se borboleteia por aí. Já a qualidade dos textos nada tem a ver com isso. As imagens preferidas dos borboleteadores são as paradisíacas, como praias desertas ao pôr do sol.
Burguesia: classe social cujo papel político, influência e acepções gerais variou muito durante os séculos. Numa classificação simplista, designa a parcela da população que odeia e ao mesmo tempo inveja os mais favorecidos econômica ou moralmente. Seus esportes preferidos são o alpinismo social e o desprezo pelos que tem menos. A burguesia é uma classe que concentra qualidades específicas, como condição monetária e um mínimo de instrução que, aliadas a uma particular falta de senso estético e refinamento intelectual, somam-se a uma quantidade assombrosa de tempo livre, resultando nos milhares de blógues existentes.
Byron, George Gordon (1788-1824): poeta anglo-escocês ícone do Romantismo e, ao que tudo indica, para milhares de blogueiros e adolescentes mundo afora. Estes últimos tendem a admirá-lo mais pela personalidade cínica, rebelde e blasê, que tentam a todo custo imitar, do que por seus escritos já que, de qualquer maneira, jamais chegariam aos pés da qualidade literária desse lord "louco, mau e perigoso de se conhecer". Byron foi pai de Ada Lovelace, que antecipou a máquina analítica, que mais tarde daria no computador, esta máquininha que nos permite perder tempo com blógues. Só mesmo a Malta para relacionar Byron com o Maravilhoso(?) Mundo dos Blógues.

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