28 agosto, 2008

Letra B - continuação

Banheiro: 1. lar da latrina, é claramente o cômodo mais importante da casa. 2. Com suas luzes favorecedoras e espelhos, é um dos locais favoritos dos foto-blogueiros, que o usam para tirar fotos extremamente originais (fazendo biquinho.) 3. O lugar em que as pessoas podem se despir das máscaras sociais (e das roupas), tornando-se livres para filosofar e dar vazão à criatividade: “Ó Trasímaco, ao andar pelas ruas de Atenas posso respirar o ar puro e ouvir o canto dos pássaros de nossa terra; ao entrar em casa e colocar a cabeça no travesseiro, a lua me sussurra os descaminhos de nossa nação; mas nada me inspira mais do que quando, sozinho na latrina, me ponho a pensar, afinal, a necessidade é a mãe de toda invenção” disse Platão. Ver: foto-blogueiro; fotológue; latrina

Belo, o: conceito abstrato extremamente variável de acordo com fatores como tempo, espaço e bom senso do apreciador. Considerado aquilo que é esteticamente agradável, em blógues costuma variar entre o canto dos pássaros e o brilho do Sol, ou, em casos mais extremos, templates rosa-choque e adornos estrelados; ou seja, o já mencionado bom senso dos blogueiros na posição de apreciadores do belo é absolutamente questionável. Ver Cuti-cuti

Bloguemo: o mundo virtual é realmente um local único em termos de diversidade. Mas nada é mais fascinante que o bloguemo. Antes que o leitor fique se martelando: mas, querida Malta, o que é isso? A Latrina tem o prazer de esclarecer. Os bloguemos se proliferaram no blogsfera assim como as “músicas” emo se alastraram pelas rádios. Com seus layouts pretos e citações do Simple Plan (e.g: “I’m not perfect”), esses blógues primam pela falência crônica devido ao caráter pretensamente anti-social e suicida de seus criadores. Ver: bipolar, transtorno; emomento; miguxês; emocional, carência; pretensão; terrinha, blógues da

Bolonha, Bosque de: situado na cidade de Paris, este parque era freqüentado por pessoas de prestígio como Jacinto de Tormes, Zé Fernandes, duquesas, cortesãs, políticos, financeiros, generais, acadêmicos, clubistas e judeus. Se anteriormente “ir ao bois” era para o príncipe um ato de renovação de suas crenças, da modernidade e das maravilhas de Paris, posteriormente, o bosque e o “pessoal”, os “astros”, só faziam Jacinto “escancarar bocejos de fartura”. Zé Fernandes, que sempre viu a atmosfera do bosque e seus freqüentadores com desconfiança, nos mostra como este é o ambiente perfeito para o desfile das máscaras sociais. É desta forma que o Bosque de Bolonha representa tão bem o Maravilhoso Mundo dos Blógues. Ver: bovarismo

Boteco: é o blógue no qual as conversas giram em torno de assuntos semelhantes aos assuntos de bar, como: futebol, política e mulheres. Tudo isso é feito de forma bem humorada, através de piadinhas e trocadilhos mais que espertos. Seus autores se acham, na maioria das vezes, grandes malandrões e adoram contar causos.

Bovarismo: inclinação a criar uma auto-imagem fantasiosa, geralmente com pinceladas de grandeza e glamour. Comuníssimo na chamada “vida real”, o bovarismo ganha toda uma nova dimensão na internet (e na blogsfera). O blógue torna-se então a realização da ilusão – através de textos e imagens, o bovarento acaba por exprimir, explícita ou implicitamente, a imagem que tem de si mesmo. O grau de bovarismo do indivíduo também transparece no tipo de blógue – destaque para os ditos “confessionais”. A ironia é que, quanto maior a inclinação para incorporar Emma Bovary, maior é a fragilidade do embuste, que passa a ser facilmente perceptível aos outros (com exceção, talvez, dos amiguinhos do sujeito) - no entanto, o bovarento raramente tem noção de ridículo. Embora possam parecer sinônimos, um exame mais detalhado revela que a inclinação para o bovarismo distingue-se da prática do bunburying em pontos fundamentais: o bovarento não chega a se esconder atrás de um pseudônimo ou um fake, e a distorção da personalidade não costuma ser notada pelo próprio indivíduo, que tende a afundar cada vez mais no sonho romanesco. Ver: bipolar, transtorno; bunburying; confessional, blógue; pretensão

Brasil: 1. País de origem de muitos blogueiros mas, devido à insistente recusa destes em aceitar suas raízes, de muito poucos blógues. 2. Parte do mundo (real e virtual) que se destaca por suas características peculiares geradoras de fenômenos muito difundidos no nosso tão conhecido mundo dos blógues dada a proliferação de nacionais dessa terra. Destacam-se dentre esses fenômenos a perseverança (afinal, "eu sou brasileiro e não desisto nunca") e extraordinárias formas de relacionamento entre blógues. Ver agregadagem; anglo-saxã, língua; apadrianhamento; babel

Buchicho: o resultado dos posts de diversos blógues, com repercussões tanto no mundo virtual como no real. Ver: babalaô; cartomante

Bunburying: 1. O ato do blogueiro que opta por se esconder por trás de uma dupla identidade para, assim, se livrar das amarras das convenções sociais e escrever todo tipo de bobagens estapafúrdias, sem se preocupar com a represália de seus amigos fora do mundo virtual. Em blógues, os Bunburys podem variar de um pseudônimo pretensamente misterioso até um fake da celebridade de preferência do blogueiro. 2. Também se diz da prática de inventar um amigo ou parente com graves problemas e que prescinde da ajuda inadiável do blogueiro, que procura, com isso, se esquivar de obrigações chatas como comentar no blógue de um azucrim conhecido (atente-se, contudo, para a miríade de desculpas esfarrapadas que podem ser inventadas para este mesmo fim). Ver: azucrim; bipolar, transtorno

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14 agosto, 2008

Era um banheiro de McDonalds...


Como muitos de vocês devem ser capazes de imaginar, quando se está viajando por um país distante, com horários irregulares e passando a maior parte do dia fora do hotel, é, muitas vezes, preciso recorrer à famigerada cadeia conhecida como McDonalds para alimentação e, por que não, para dar uma passada no banheiro. Infelizmente, isso é válido também para a França.

Os banheiros dos McDonalds franceses são, porém, um tanto quanto fora do comum e eu diria até que a experiência de tentar fazer uso de um deles foi, de várias maneiras, traumatizante.

Em  primeiro lugar porque, diferentemente da maioria dos estabelecimentos comerciais, este em particular só permitia a entrada no banheiro daqueles que ali consumissem alguma coisa. "Mas como?", vocês devem estar se perguntando. Pois bem, o controle era feito de forma muito simples. O banheiro era fechado por um sistema magnético de alta tecnologia que só podia ser aberto mediante a digitação de um código em um painel do lado da porta. Código esse que os fregueses recebiam por escrito na nota fiscal de sua compra e que tinha validade limitada em algumas horas.

Como vocês podem ver, a recepção nesse toilete era bastante hostil, e as coisas só pioraram. Quando finalmente consegui entrar, me senti em um bunker, em parte por causa da segurança reforçada na porta, em parte porque o lugar tinha o formato de um pequeno corredor, sem nenhuma abertura para o mundo, escuro e austero; dava até calafrios. Mas, como já foi dito, o fato de eu estar em viagem me forçava a relevar certos aspectos desagradáveis do lugar e ir em frente. Caminhei pelo caminho entre as paredes frias e cheguei até a porta do cubículo atrás da qual eu pensava estar a latrina.

Empurrei vagarosamente a porta e, ao olhar para dentro, um susto! Faltava algo alí, não havia latrina alguma. Depois de me recuperar do choque, olhei melhor para o que se encontrava diante de mim e pude compreender o que via. No lugar de uma privada, bonitinha e branquinha, onde pessoas normalmente se sentam, havia uma espécie de quadrado de porcelana no chão, com dois retângulos antiderrapantes para apoiar os pés entre os quais havia um buraco, um cano aberto cheio de água. Aquilo era um tipo de latrina em formato primitivo, apesar de feita com materiais modernos, que eu nunca pensei que eu veria ao vivo, muito menos em um país dito desenvolvido. Creio que eles esperassem que o usuário ficasse de pé nos retângulos aderentes e se agachasse para fazer as necessidades naquela fossa.

Eu, que não estou acostumada a fazer xixi de pé, desisti e resolvi esperar pelo próximo banheiro, esperando encontrar algo mais civilizado. Mas depois, comecei a refletir, será que quem fez aquela aberração da natureza pensou nos deficientes físicos?
Era mais ou menos assim...

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