30 novembro, 2006

Manifesto de uma Agregada - Parte I

Nasci na primavera de 89 – ano da queda do muro de Berlim e das eleições para presidência – no coração de São Paulo, a Avenida Paulista. Porém, moro no subúrbio desde que sai da maternidade; Quando eu era um bebê, fofinho e bonitinho, minha casa – cuja existência era uma mera hipótese – estava entre as primeiras do condomínio. O supermercado mais próximo ficava a uns 5 km da minha residência e era preciso pegar a estrada, a Raposo Tavares (elemento importante em minha vida), para chegar ao destino.

Apesar de sempre ter estudado em Sampa, a distância só me afetou drasticamente quando comecei a cursar o Ensino Fundamental II e tive que me acostumar a acordar às 5h30min da madrugada – aliás, vocês não têm noção de quanto isso afeta no humor de uma pessoa, principalmente se ela sofre de insônia. Continuando, sabe de uma coisa? Eu cansei de escrever, outro dia eu continuo... Seria mais interessante eu me dedicar a “A História dos Subúrbios”.

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28 novembro, 2006

Festa do Yuri

Horizonte e além

Mãe, acho que o motor parou mesmo, veio a voz da menina por de trás do capô aberto. O que vamos fazer?
A Mãe, dentro do carro, passou a mão nos cabelos ao som de um suspiro pesado. O vento soprou suave, levando as palavras de volta. Não sei.
Só se ouvia a grama alta e verde se agitar com a brisa, rumorejo triste. O capô fechou-se com força, e a Filha, faces em fogo e as mãos de graxa, perfeito, estamos aqui, no meio do nada, nessa viagem ridícula, e deixou-se cair no mato fofo à beira da estradinha de terra. E eu nem queria vir. Eu não queria porque sabia que ia dar errado. Ir pra longe ia dar errado, muito longe, assim iam as palavras no vento, longe, muito longe.
A porta do carro bateu. Me desculpe, erro meu, mas você bem que poderia facilitar, não? Não, não posso! E quer saber, estou indo embora!
Assim contra o vento, os sapatos vermelhos recobertos pela poeira fina da estrada, na luz amarela e fraca do final da tarde, a Filha andava pela estrada que se esticava até o horizonte.
Ei, espera, você não pode me deixar aqui! Estamos juntas nessa, lembra? Mas a Filha fez que não ouviu, ou não ouviu mesmo, o vento soprava pra lá. A Mãe correu atrás da Filha, ei, nós vamos dar um jeito. Não vamos? Mas a resposta foi apenas o barulho cada vez mais fraco de passos à distância.
Raiva. Esperava mais de você! Desistir assim, que vergonha!
Os sapatos vermelhos deram meia volta. A boca se abriu para responder... quando um carro parou lá na frente.
Para onde vocês estão indo?
O vento sussurrou mais uma vez, agitando o verde em volta. A Filha olhou para a Mãe, olhou para a longa estrada pela frente.
Para longe. Para qualquer lugar.

24 novembro, 2006

Geração Trianon

Nem a loucura do amor, da maconha, do pó, do tabaco e do alcoól
Vale a loucura do ator quando abre-se em flor sob as luzes do palco
Bastidores, camarins, coxias e cortinas
São outras tantas pupilas, pálpebras e retinas
Nem uma doce oração, nem sermão, nem comício à direita ou à esquerda
Fala mais ao coração do que a voz de um colega que sussura merda
Noite de estréia emoção, medo, deslumbramento, feitiço e magia
Tudo é uma grande explosão, mas parece que não quando é o segundo dia
Já se disse não foi uma vez, nem três, nem quatro
Não há gente como a gente, gente de teatro
Gente que sabe fazer a beleza vencer pra além de toda perda
Gente que pôde inverter para sempre o sentido da palavra merda
Merda! Merda pra você
Desejo merda!
Merda pra você também
Diga merda e tudo bem
Merda toda noite e sempre merda!
(Merda, Caetano Veloso)


Já foi uma vez. Foi muito divertido! Espero que amanhã as coisas deêm mais certo (ou errado)!
MERDA

"Ai, eu estou adorando isso aqui!"

14 novembro, 2006

Flores para Lulu


Louise Brooks (1906-1985), também chamada de "the girl in the black helmet", foi, apesar de sua curta carreira, uma das mais importantes estrelas do cinemas mudo. Após romper com a Paramount, foi à Europa fazer filmes com G.W. Pabst, grande diretor do Expressionismo alemão, sendo A Caixa de Pandora o mais conhecido, em que interpretava a sedutora Lulu. Mesmo assim, abandonou o cinema depois de ter sido colocada na lista negra de Hollywood, quando voltou aos EUA. Apesar disso, nunca deixou de ser uma inesgotável fonte de inspiração para todos aqueles que amam o cinema.

Hoje é o centenário do seu nascimento. Palmas para ela.


05 novembro, 2006

Há alguma coisa no ar. Nos silêncios. Nos olhares. Não posso cheirar, tocar ou ver, mas está lá.
É como se a todo instante algo fosse acontecer, como se de tempo em tempo o tempo se suspendesse, esticando os segundos, parando os ponteiros do relógio, fazendo crescer a expectativa que se dissolve no instante seguinte. À noite, vejo passar pela janela uma sombra, mas quando corro para o jardim não há nada além do sussurro do vento.
O vento. Nunca há nada além dele.