22 junho, 2007

O Senhor de Peruíbe VI

Milagre! Eu postei uma continuação. Mas como faz tempo, eu bolei um método para relembrar um pouco da história. Quando uma parte do texto estiver desta cor, ela faz referência a episódios passados; ela é um link para a parte do Senhor de Peruíbe a que se refere. Eu também destaquei a parte mais importante para entender este post.


Eu notei esta manhã que muitos de vocês tem feito suas necessidades fisiológicas...

— O que? — interrompeu Bacchi, já um pouco lesado depois de tantos cocos na cabeça. Marcel rapidamente sussurrou a explicação para seu irmão para que Caio pudesse continuar.

— Pois bem, o que eu queria dizer é que eu notei que os seus...dejetos estão...sendo depositados perto do riacho, de onde todos nós bebemos água. A meu ver, isso não é apropriado. Eu convoquei essa reunião para instruí-los sobre um método mais higiênico de executar essas... eh...necessidades.

Foi então que Alexandre, em um momento de profunda iluminação, exclamou:

— E daí? O que importa é cagar!

Quantas vezes eu vou ter que pedir para vocês pegarem a concha antes de falar? Agora, Alexandre, deixe-me terminar de explicar. O motivo pelo qual eu acredito ser pouco saudável fazer...isso que você disse...perto do rio é que fezes podem transmitir doenças, parasitoses. Podemos desencadear uma endemia de alguma verminose, ou protozoonose. Vocês podem imaginar como seria desagradável a convivência entre essa quantidade de crianças todas com fluxo intestinal acelerado. Por isso, convoquei essa reunião para anunciar que Porquinha, auxiliada por duas amigas imaginárias, desenvolveu o projeto de uma Latrina (provando seus genes politécnicos), com fossas higiênicas e divisórias para privacidade. Esta maravilha do mundo moderno está localizada não muito longe da cabana, com acessibilidade garantida, mesmo de noite, porém não muito perto para que suas exalações não perturbem os nossos sentidos. O local foi escolhido para que não haja risco de contaminação. — Então foi como se uma cortina de nuvens cobrisse os seus pensamentos, ele ficou em silêncio por alguns segundos, afastou o cabelo dos olhos e continuou — A Latrina também poderá ser transferida para outra locação, a ser estudada, de acordo com as necessidades. Você quer dizer alguma coisa, Porquinha?

A menina estava inquieta, tentando chamar atenção e agarrar a concha.

— Em primeiro lugar, eu sinto muito, mas não vai ter mictório nenhum, isso seria inviável. Depois, eu fiz uma placa, indicando onde fica a Latrina, para que ninguém tenha dúvidas. SÓ USEM A LATRINA, PARA ESSAS FUNÇÕES, QUALQUER OUTRO LUGAR É PROIBIDO. E SÓ PARA NÚMEROS 1 E 2, NADA DE COISAS IMPRÓPRIAS E SUJAS! Entenderam?

Ninguém ousou discordar.

E assim as coisas funcionaram por algum tempo.

Ao final da reunião, Porquinha passou por Honório e perguntou:

E aí, Cerejinha, nenhum porco, ainda?

Se só te jogar no mato não adianta, você quer que eu te mate de cócegas também?

Manfrim estava por perto, e ao ver a cena, levou Porquinha para longe, ajudando-a a se locomover, já que ela ainda mancava por causa da queda na piscina.

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20 junho, 2007

Diálogo pela manhã

Eu desci a escada e entrei na cozinha.
Pai: Dormiu bem?
Eu: Tudo
Dirigo-me a bancada e preparo o meu leitinho.
Eu (finalmente entendendo a pergunta e rindo): Sim?
Eu (ainda rindo): Dormi?
Pai: Pra mim foi pouco.
Ele continuou a ler o jornal, normalmente.
Nessa hora, eu estava tendo um ataque de gargalhadas internamente, às 5h45 da manhã.

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06 junho, 2007

Miguxês Português

A Malta lança um desafio: traduzir o texto abaixo de português pós-moderno (miguxês de Portugal) para o português ainda usado pela maioria dos pobres mortais.

Laura (a xata du kuxtum) disse...
ohhh... tum frofuhh....
poix e u k eu t digo... u amor a fudd... mx xem ele nc knxguimux viver (nem parex meu tar a dxer ixtu =P)
guxtei du poema =)
bjituxxx frofuxxxxx
30 de Maio de 2007 11:40
Retirado do maravilhoso mundo dos blógues da terrinha, diários pessoais.
P.S: Giulia T. foi co-autora deste post.

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04 junho, 2007

Sidarta e os picos Aveludados

Era de conhecimento de todos que nas terras além dos picos Aveludados a vida era comum. Só seus habitantes não sabiam.

Sidarta brotou do chão batido, entre paredes de madeira barata. Sua mãe nunca conhecera, mas tinha impregnado no inconciente o calor de seu colo; sofrera do grito contido dos abandonados e desde cedo adaptou-se à vida crua.

Um dia quis fugir, esquecer o cheiro de enxofre. Isso foi quando acordou com o alfalto tingido de sangue ao seu lado. A galinha estava depenada, pescoço quebrado, multilada. A morte não mais podia ser ignorada.
Deixou nada para trás, porque só isso pertencia a ele. Vagou pelos bosques distantes. Uma pedra o aguardava, sob uma cerejeira. Nunca se viu um Sol tão brilhante; a relva exalava frescura. Sidarta sentou-se e cruzou as pernas debaixo da árvore. A iluminação nunca veio.
Não queria ser o além, o resto , a extremidade. Só desejava o dentro. Agora, sua busca era pelos picos Aveludados - ouvira falar do mito dos Deuses, no qual todos eram poderosos e personificados. Havia rumores que lá seus habitantes iam regularmente a exposições que exibiam todos os tipos de formas e cores.

O caminho não foi fácil, quase não havia comunicação entre as regiões. Após quarenta dias, chegou à base dos picos, mas encontrou algo que não esperava: filas e filas de pessoas circundavam o local, que era revestido de musgo. Olhando para cima se via o auge, estreito. O barulho era ensurdecedor.

Houve o breve silêncio antes do sinal. De repente, a montanha foi coberta por pessoas. Sidarta também começou a escalar com toda a força que lhe restava. Suas unhas quebradas e sujas ainda tinham o tamanho suficiente para segurar no musgo. A gente esperançosa estava se esmagando e pisando.

Poucos foram selecionados para entrar nos picos Aveludados e frequentar os supermercados do lado de fora. Muitos, como Sidarta, não chegaram perto, desfigurados pelos fatos. Só restou a chuva para limpar os corpos ao longo do monte.

Era de conhecimento de todos que nas terras além dos picos Aveludados a vida era comum. Só seus habitantes não sabiam.

Já havia a formação de uma nova multidão desiludida.

***

Considerando:
que a latrina está as moscas;
meu amigo B. me encorajou a postar tal texto;
que está um pouco clichê;
talvez esteja pouco claro, porque esqueço que as pessoas não estão na minha cabeça;
recebeu R pela corretora porque foge do assunto, que era consumismo;
que estou muito revoltada com isso;
espero que vocês gostem da leitura...

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