O Senhor de Peruíbe VI
— O que? — interrompeu Bacchi, já um pouco lesado depois de tantos cocos na cabeça. Marcel rapidamente sussurrou a explicação para seu irmão para que Caio pudesse continuar.
— Pois bem, o que eu queria dizer é que eu notei que os seus...dejetos estão...sendo depositados perto do riacho, de onde todos nós bebemos água. A meu ver, isso não é apropriado. Eu convoquei essa reunião para instruí-los sobre um método mais higiênico de executar essas... eh...necessidades.
Foi então que Alexandre, em um momento de profunda iluminação, exclamou:
— E daí? O que importa é cagar!
— Quantas vezes eu vou ter que pedir para vocês pegarem a concha antes de falar? Agora, Alexandre, deixe-me terminar de explicar. O motivo pelo qual eu acredito ser pouco saudável fazer...isso que você disse...perto do rio é que fezes podem transmitir doenças, parasitoses. Podemos desencadear uma endemia de alguma verminose, ou protozoonose. Vocês podem imaginar como seria desagradável a convivência entre essa quantidade de crianças todas com fluxo intestinal acelerado. Por isso, convoquei essa reunião para anunciar que Porquinha, auxiliada por duas amigas imaginárias, desenvolveu o projeto de uma Latrina (provando seus genes politécnicos), com fossas higiênicas e divisórias para privacidade. Esta maravilha do mundo moderno está localizada não muito longe da cabana, com acessibilidade garantida, mesmo de noite, porém não muito perto para que suas exalações não perturbem os nossos sentidos. O local foi escolhido para que não haja risco de contaminação. — Então foi como se uma cortina de nuvens cobrisse os seus pensamentos, ele ficou em silêncio por alguns segundos, afastou o cabelo dos olhos e continuou — A Latrina também poderá ser transferida para outra locação, a ser estudada, de acordo com as necessidades. Você quer dizer alguma coisa, Porquinha?
A menina estava inquieta, tentando chamar atenção e agarrar a concha.
— Em primeiro lugar, eu sinto muito, mas não vai ter mictório nenhum, isso seria inviável. Depois, eu fiz uma placa, indicando onde fica a Latrina, para que ninguém tenha dúvidas. SÓ USEM A LATRINA, PARA ESSAS FUNÇÕES, QUALQUER OUTRO LUGAR É PROIBIDO. E SÓ PARA NÚMEROS 1 E 2, NADA DE COISAS IMPRÓPRIAS E SUJAS! Entenderam?
Ninguém ousou discordar.
E assim as coisas funcionaram por algum tempo.
Ao final da reunião, Porquinha passou por Honório e perguntou:
— E aí, Cerejinha, nenhum porco, ainda?
— Se só te jogar no mato não adianta, você quer que eu te mate de cócegas também?
Manfrim estava por perto, e ao ver a cena, levou Porquinha para longe, ajudando-a a se locomover, já que ela ainda mancava por causa da queda na piscina.
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