29 janeiro, 2007

Senhor de Peruíbe IV

ou
A Fúria de Miss Piggy
por Muriel A.

Todos os meninos olhavam para a fogueira, mesmerizados. O primeiro a sair daquela espécie de transe foi Caio, que logo tratou de chamar a atenção do grupo.

­-Agora que já fizemos a fogueira, temos que descobrir se isto é mesmo uma ilha. Se não for, não vão demorar a nos procurar. Se for... – não chegou ao final da frase – de qualquer forma, temos que ir explorar. Acho que deveríamos ir em três, mais que isso e vai virar bagunça. Vou eu, o Honório e... – olhou para o círculo de meninos ansiosos – e Alexandre.

O menino magro levantou-se e foi até o Caio, os olhos brilhando.

-Eu vou – disse –sou bom de localização e geografia em geral. Posso ajudar.

O trio já se afastava pela praia quando Caio percebeu que alguém os seguia. Virou-se e deu de cara com Porquinha.

-Eu também quero ir – pediu ela.
Caio suspirou.

-É melhor não. Já vamos nós três.

-Mas sou eu que estou com você desde o começo! – insistiu, as bochechas e orelhas muito vermelhas, os olhos começando a lacrimejar.

Caio abriu a boca mais uma vez, provavelmente para dizer palavras de consolo, quando foi interrompido.

-Não queremos que você venha. – era a voz de Nonô.

Os enormes olhos de Porquinha pareceram se alargar ainda mais, e a menina parecia a beira do choro.

-Não é isso – começou Caio, tentando remediar a situação – é só que a gente acha que você pode ser mais útil cuidando dos meninos menores, perguntando seus nomes – e girou sobre os calcanhares, sem coragem de encarar Porquinha por mais tempo.

Os três foram andando pela praia, pisando com satisfação na areia branca e quente. Era de fato uma paisagem bonita: areia, mar e floresta até quase o horizonte. Iam quietos; cada um imerso em seus próprios pensamentos.

Algum tempo depois, os três chegaram a uma superfície rochosa; a areia macia aos poucos se transformava em pedrinhas e logo a frente havia rochas grandes cor-de-rosa, empilhadas umas sobre as outras, estendendo-se como um braço até a alguns metros dentro do mar.

-Parece glacê de bolo – observou Caio.

Mas Nono não estava prestando atenção. Ele olhava fixamente para a floresta.

-Temos que ir pelo mato – disse, apontando – só assim dá pra chegar lá no topo e ver tudo.
Seu tom de voz não admitia discordâncias, e os outros dois meninos limitaram-se a segui-lo.

Por baixo da sombra das arvores era consideravelmente mais fresco, e foi um alívio estar ali, depois do dia todo sob o sol quente. Andavam em fila indiana, Nonô à frente. Quase tropeçaram quando ele parou bruscamente, uma mão levantada em tom de aviso. Podiam ouvir uns barulhos indistintos... Eram guinchos desesperados.

Nono levou a outra mão ao bolso da bermuda e tirou de lá, para a surpresa dos dois meninos, uma faca. Não era muito grande, mas a lâmina brilhava na meia luz da floresta.

Descobriram, pouco a frente, um leitãozinho enroscado em cipós, contorcendo-se convulsivamente, tentando escapar das garras de hera. Seus guinchos eram altos e estridentes.

Honório levantou a faca ainda mais alto – o golpe seria mortal. Nos olhos do porquinho só havia o mais desesperado terror.

Então o leitão conseguiu escapar, e sumiu por entre as árvores.

Honório ainda ficou segurando a faca no braço erguido por alguns segundos, o rosto, normalmente rosadinho, muito branco.

-Eu estava escolhendo um lugar – balbuciou – eu só precisava de um momento para decidir onde pegar o bicho.

E cravou a faca com força em uma árvore. Da próxima vez não haveria mercê.

***

Caio, Alexandre e Honório continuaram pela trilha da floresta, que se tornava cada vez mais íngreme.

Finalmente chegaram ao topo. Estavam cansados, mas felizes: tinham conseguido. Lá de cima tinha-se uma boa vista panorâmica.

- Não dá pra saber se é uma ilha – disse Caio – a floresta vai até o horizonte.
-Talvez seja só uma ilha grande – retorquiu Nonô.
-Talvez... O que você acha, Alexandre?

Mas o menino não respondeu. Ele estava de costas, olhando para a direção de que vieram.

-Fogo – murmurou, os olhos arregalados – fogo...

Caio e Nono agora viam também. Ao longe, meio quilômetro quadrado de floresta ardia em chamas. As árvores estalavam como que com dor e desabavam, para logo serem consumidas pelas línguas vorazes do fogo.

Os três ficaram imóveis assistindo à destruição por apenas um segundo; depois viraram e correram o mais rápido que puderam.

***

Antes mesmo de chegarem perceberam o calor que vinha do incêndio e que se espalhava pelo ar.

Os meninos menores estavam encolhidos do lado da pilha de cinzas que fora a fogueira, assustados. Só havia uma figura de pé, escura contra a luminosidade ferina do mar de fogo.

Era Porquinha.

Quando o trio de exploradores chegou mais perto, ela se virou bruscamente, o rosto muito vermelho.

A verdade é que Porquinha tinha pouco mais de um metro e meio, mas, fosse pelas sombras lançadas pelas chamas naquele fim de tarde, fosse pela raiva que emanava da garota em ondas quase palpáveis, a questão é que ela parecia ser muito maior.

-Era uma fogueira o que vocês queriam? – gritou – pois aqui está a sua fogueirinha!!!

No mesmo momento, a poucos metros dali uma árvore estalou e explodiu, lançando trepadeiras e cipós por todos os lados, fazendo os meninos até então encolhidos saírem correndo, gritando “as cobras, as cobras! O monstro-serpente!”

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Poema de Meio da Manhã

Rebosteio
por vitor (malandrão)

Face angelical se esconde nos braços
Sono profundo o embala e acalma
Os alvos flocos se soltam, são lassos
Dos negros cabelos que encantam minh’alma

Nos sonhos seus olhos se fecham suaves
Seu doce roncar só encanta a quem ouve
Quando, de repente, resmungos ocorrem
Todos já sabem quem foi e o que houve

Acordado é gênio, não deixa passar
Nenhuma pergunta que o mestre indaga
Sua voz se propaga, é doce cantar
Porém preferimos que não diga nada

De pé ele só dança, e como uma foca
Aplaude a todos, mostrando alegria
Suas pernas se batem, mostrando que, nossa!
O Monty tem ginga e não quer calmaria
Obs: feito numa aula de biologia da suzana, descontem o cansaço e tal...

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27 janeiro, 2007

Cuidem bem da Latrina!


Flagrante latrinesco enviado de Buenos Aires pelo nosso correspondente internacional, Alex Bezerro.

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24 janeiro, 2007

HIP HIP HURRA!!!

É com muito orgulho que anuncio que a nossa humilde e fedorenta Latrina foi, imaginem só, escolhida como Destaque da Gazeta dos Blogueiros! http://www.blogueiros.com




Pois é... sem gráficos excepcionais, sem dezenas de comentários (todos apreciados, no entanto), sem muitas ambições... esta é a Latrina, que sobrevive no estranho e diverso mundo bloguístico apenas com palavras arranjadas de forma coerente e uma pitada de humor corrosivo.





Ou talvez só tenhamos sucesso porque, afinal, todos precisam se aliviar de vez em quando...

23 janeiro, 2007

O Senhor de Peruíbe III

Quase todos colaboraram com a construção da fogueira. Até os meninos mais novos carregaram gravetos da mata até o ponto escolhido para o farol improvisado, mesmo que alguns se distraíssem no meio do caminho. Porquinha revirou os olhos quando viu que um dos garotos –aquele com o cabelo esquisito, agora preso para trás com um lenço – parara entre as árvores empunhado um graveto em posição de ataque e fingindo-se de pirata. Mas nenhuma outra criança pareceu se interessar pela brincadeira.

Eles se mantiveram ocupados com o acúmulo de madeira durante o maior parte da tarde. Honório, por outro lado, estivera todo esse tempo sentado por perto entretido com seu passatempo favorito: tremer a perna frenética e incontrolavelmente. Então, de repente, ele lembrou a todos de um pequeno detalhe crucial que não lhes tinha passado pela cabeça;

—Como vocês pretendem acender a fogueira?

Caio, Bacchiemarcel, Manfrim e Alexandre olharam para ele sem resposta, desapontados e desesperados. Vendo isso, Porquinha reagiu, perguntando a Honório com seu jeito característico:

— Que tal você pensar em uma solução, Cerejinha?

— Oh pirralha, tá vendo aquele mato ali do lado? Eu estou pensando seriamente em te jogar lá. E para a sua informação, eu já tenho a solução.

— E é poeta...

— Você está me comparando ao...bom, não importa. Agora o mais importante... você quatro-olhos, você é míope ou hipermétrope?

— Hipermétrope. – respondeu Manfrim, um pouco atordoado.

— Ainda bem. – continuou Nonô, enquanto desenhava uma forma convexa no chão. – A lente dos seus óculos é convergente, por isso, se nós virarmos ela para o Sol, os raios de luz que chegam paralelos vão ser todos refratados para o mesmo ponto, de acordo com a analogia dos carrinhos, formando um feixe intenso que vai ser absorvido pela madeira, se transformando em calor e começando o fogo.

Ninguém entendeu nada dos rabiscos do menino, mas compreenderam seu propósito. Vitor se lembrou das longas tardes que passara na casas de seus avós, antes de ir parar naquele lugar, queimando formigas com uns óculos velhos, e sentiu saudades daquele tempo.

Manfrim entregou seus óculos para Caio, que o posicionou de modo a captar a luz do Sol que
vinha do oeste. Alguns segundos depois, um fio de fumaça surgiu e logo as chamas já formavam sombras fantasmagóricas nos rostos dos que estavam em volta.

Honório observou, um pouco afastado, enquanto todos aplaudiam e dançavam em volta de Caio por ele ter executado a sua idéia, baseada nos seus conhecimentos de física. Ele tremeu sua perna mais violentamente do que nunca, próximo da fogueira.

Um galho acesso se mexeu e uma fagulha voou em direção à floresta do outro lado da montanha. Foi o desastre e o início do caos.

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22 janeiro, 2007

O Senhor de Peruíbe II

A mancha negra tomou a forma de um grupo de menino com roupas de coral inteiras pretas e com chapéus pretos enfeitados com franjinhas prateadas. À sua frente vinha um menino loiro, corpulento, com cara de poucos amigos, vestido como os outros, só que com franjinhas douradas. Obviamente eles estavam morrendo de calor, mas aquelas roupas lhes conferiam certo status.

— Meu nome é Honório e eu sou o líder desse coral. Eu gostaria de oferecer as habilidades deles para o que for preciso.

Ao que Caio, intrigado, perguntou:

— Para que nós precisaríamos de cantores para sobreviver nesse lugar hostil?

— Sei lá. Mas eu posso cantar em fá maior, veja:
La cucaracha, la cucaracha...

Enquanto isso, o coro acompanhava dançando. Sendo o mais animado deles um magro, de cabelos escuros, chamado Alexandre.
Todos os outros meninos olharam atônitos. Mas antes de alguém conseguir sair daquele estado e tomar uma atitude, Alexandre caiu no chão desmaiado. Houve um alvoroço geral e, mais uma vez, os meninos incumbiram Porquinha de cuidar dele. Ela tirou o chapéu da cabeça do desmaiado e começou a abaná-lo, supondo que aquilo tivesse sido por causa do calor. Nonô quis saber quem era aquela...menina e Caio a apresentou.
— Porquinha? Suja! Suja!
O resto do coro recebeu um olhar ameaçador de seu líder e se sentiu obrigado a rir da menina também.
Ela, por sua vez, olhou para eles com o desprezo característico e necessário. E, vendo Nonô, que claramente era o que mais sofria com aquelas roupas e que mais se recusava a tirá-las, com o cabelo empapado de suor e as bochechas vermelhas como cerejas, disse:
— Se eu tenho um apelido, você também tem que ter: Cerejinha.
— Não! Isso diminui a minha autoridade. Tenho que me recuperar disso.
Nonô imediatamente derrubou Caio de seu montinho de areia.
— Nós precisamos de um líder para nos organizar. – ouviram-se murmúrios de aprovação na platéia. – e como eu já sou o líder do coro, eu acho que...

Mas antes dele terminar, todos já haviam se unido para gritar o nome de Caio – para a decepção de Honório.
Alexandre acordou no meio daquilo e levou um susto ao ver uma menina na sua frente.
— oh, você fica muito estilosa com esse chapéu assim.
Então Caio começou seu primeiro discurso de líder.
— Eu acredito que nós devemos ter algumas regras básicas pra um convívio adequado e prazeroso enquanto nós estivermos aqui. Nós também precisamos elaborar meios para que se torne o mais fácil possível que nós sejamos resgatados e que voltemos para casa. – ao som dessa palavra todos sentiram algo revirar em seus estômagos, mesmo sem comer nada há horas. Mas Caio não perdeu sua linha de pensamento. – Sempre que nós precisarmos nos reunir para falar de alguma coisa importante eu vou tocar a concha e vocês todos deverão se dirigir imediatamente para cá. Este será nosso centro de reuniões, nossa assembléia. Durante esses encontros, quem estiver segurando a concha terá a palavra e não poderá, em hipótese alguma, ser interrompido. Além disso, eu acho que nós devemos construir uma fogueira. Na remota chance de que algum navio passe por aqui, nós não podemos desperdiçar a oportunidade de sermos avistados e, conseqüentemente, salvos.
Porquinha pegou a concha.
— Nós temos que fazer a fogueira no alto daquela montanha para ela ser vista de longe. E com folhas e galhos verdes para fazer bastante fumaça. Quem vai ajudar?
— Eu não, eu já sou o anfitrião. Eu vou fazer uma coisa mais divertida e sádica. Eu e o meu coro vamos caçar.
— Caçar o que? – perguntou o menino de óculos, Manfrim, fazendo todos rirem e humilhando Cerejinha. – Vocês vão atrair passarinhos com o seu canto?
— Não. – disse ele, mais vermelho do que nunca. – Nós vamos fazer lanças e caçar porcos.
Caio acabou concordando e guiou todos para o alto da montanha para começar a fogueira – sempre sob o clamor iniciado por Vitor, outro menino do coro:
— Vilela, Vilela, Vilela, Vilela!

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21 janeiro, 2007

Era uma vez II

- sim, teve o Era uma vez parte I - http://a-latrina.blogspot.com/2006/09/era-uma-vez.html
- e eu quero que vocês leiam isso inteiro, mesmo tendo mais de vinte linhas (faz um tempo que eu percebi que o tamanho de um post pode ser inversamente proporcional ao número de comentários). Priorizem a qualidade! Bah, ainda estou meio decepcionada com vocês latrineiros por causa daquele quiz... mas vamos à história!


-O que vamos fazer? - perguntou Hansel, preso na jaula de puxa-puxa - ela... ela vai nos comer, Gretel.
Gretel, a menininha ruiva e bochechuda do outro lado das grades, assentiu lentamente com a cabeça, o cenho franzido. Tinham de fugir, mas como?
A menininha suspirou. Primeiro foi a seca, e a fome que tomou conta do povoado. A Madrasta e suas reclamações que as crianças comiam demais. E o Pai, com lágrimas nos olhos, lhes entregou um pedaço de pão duro antes de virar as costas e os deixar sozinhos na floresta escura.
A trilha de migalhas tinha parecido uma boa idéia; eles só não contavam que cada pedaço de pão jogado no chão era mais um pedaço na barriga dos passarinhos... e quando Hansel e Gretel se deram por perdidos, lamentando antecipadamente o destino de todas as crianças que se perdem na floresta, avistaram diante de si o que parecia uma visão de sonho: uma casinha toda feita de doces. Portas de chocolate, telhado de mil folhas, janelas de pudim. E, imagine só, habitada por uma adorável velhinha que os acolheu prontamente.
"E agora estamos aqui" pensou Gretel, ainda debruçada na janela "como porcos em regime de engorda". Mas seus pensamentos foram interrompidos pelo som de passos titubeantes, o que significava que a Bruxa estava se aproximando. A menina abaixou a cabeça ruiva e esperou a ordem.


-Vá para a cozinha- disse a Bruxa com sua voz rouca - e prepare o forno - o risinho maldoso no final da frase propiciou a Gretel a desagradável visão de uma fileira de dentes podres. - VÁ!
Sem escolha, a menina ruiva dirigiu-se à cozinha, rezando para que nada acontecesse a Hansel no meio tempo.
-Dá-me o dedo - mandou a Bruxa - quero saber se já chegou ao ponto.
O menino olhou em volta, em busca de qualquer coisa que o impedisse de estender o dedo, já rechonchudo, à Bruxa, pois sabia que seria o seu fim. Por sorte, ali aos seus pés, havia um graveto. E foi o que Hansel estendeu à mulher.
-Magro demais - reclamou, apalpando o graveto seco e duro - mais alguns dias então.
Ufa. Sorte que sendo vesga e caolha (crianças, percebam que ambas as deficiências não são excludentes!) a Bruxa não enxergava bem.
Contudo, Gretel não tinha motivos para se aliviar na cozinha. Já havia queimado as mãos duas vezes tentando reavivar o fogo - que talvez servisse para cozinhar seu irmão.
-Meninaaaa, deixe-me ver teu dedoooo!
Ou ela mesma.
Como escapar do forno?
Foi quando uma idéia iluminou a sua mente.
-Onde estás menina? - guinchou a Bruxa.
-Estou aqui!- falou Gretel, enquanto abria silenciosamente a porta do forno.
-Onde?
-Aqui! Não, não, mais para a esquerda!
Assim, quando a Bruxa ficou bem de frente para a porta aberta e quente, a menininha veio por trás e a empurrou com toda a força, não sem antes arrancar as chaves da cintura da Bruxa.
Fechou o forno o mais rápido possível, abafando os gritos da mulher agonizante. Ficou ali ainda um instante, olhando fixamente para a portinha fechada e admirando o seu feito.
E então se virou, de um modo meio brusco, em direção a Hansel, ainda atrás das grades, e girando o molho de chaves nos dedos, abriu um sorrido que pareceu iluminar a cozinha inteira.
-Hansel querido - disse - o jantar vai sair daqui a pouco. E dessa vez - olhava para as paredes açucaradas com um brilho estranho nos olhos - vamos finalmente degustar algo...salgado.

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20 janeiro, 2007

Aqui vai a resposta do quiz miado (Shakespeare vai ao banheiro, 21/12/06) :

Quem leu o quê:
Caio - Germinal
Lipão - Memórias Póstumas de Brás Cubas
Marieta - Antes do Baile Verde
Giulietta - A Hora da Estrela
Muriel - Hamlet
Camila - Mrs Dalloway

Queridos companheiros de Latrina, quando alguém propõe um quiz... é pra participar!!! (talvez valha a pena comentar que o pouco sucesso desse post se deva ao fato de que a maioria das pessoas que freqüenta este blógue estava em Peruíbe e portanto já sabia a resposta).

19 janeiro, 2007

Manifesto de uma Agregada - Anexo IV

Casa No Campo
Elis Regina - Composição: Zé Rodrix e Tavito


Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa compor muitos rocks rurais
E tenha somente a certeza
Dos amigos do peito e nada mais
Eu quero uma casa no campo
Onde eu possa ficar no tamanho da paz
E tenha somente a certeza
Dos limites do corpo e nada mais
Eu quero carneiros e cabras pastando solenes
No meu jardim
Eu quero o silêncio das línguas cansadas
Eu quero a esperança de óculos
E um filho de cuca legal
Eu quero plantar e colher com a mão
A pimenta e o sal
Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapé
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais

Desculpe me adiantar, mas esse dia não deve passar em branco.
25 anos sem Elis.

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14 janeiro, 2007

Diálogo

(não, não é baseado em fatos reais, exceto, talvez, algumas coisinhas tiradas das nossas adoráveis aulas de O.E).

Minha Conversa Com Uma Psicóloga

ou
Como Chafurdar em Simbolismos Baratos:

Ela: Então querida, tudo bem?
Eu: Ah, tudo.
Ela: É mesmo? Porque logo que você entrou aqui nesta sala, vi que seu olhar estava vago, e as suas costas um pouco curvadas.
Eu: Bom, eu tenho escoliose.
Ela: Ah sim, claro querida (pausa). Você sabe que tudo o que a gente disser aqui fica aqui, não é?
Eu: Er, que bom.
Ela: Mas então... Como você define seu lugar no mundo?
Eu: Meu lugar no mundo?!
Ela: Sim, como você acha que influencia as pessoas à sua volta?
Eu: Mais do que elas gostariam, acho.
Ela: Interessante... Mas agora me diga... O que você vê quando se olha no espelho?
Eu: Eu.
Ela: Sim, mas o que você realmente ?
Eu: Ah, claro. Eu vejo algo que freqüentemente me assusta.
Ela: O próprio "eu" pode ser amedrontador, não?
Eu: É. Quero dizer, não. Não é isso que você está pensando. Não é que eu tenha medo do meu próprio "eu", é que... Ah, eu só estava me referindo às espinhas e ao cabelo com vontade própria.
Ela: Claro querida (pausa). Sabe, encontrar o nosso caminho é tortuoso, é como encontrar um linda flor de lótus emergindo de um pântano.
Eu: Ah...
Ela: Sabe, tudo é uma questão de percepção, só isso. Se alguém pusesse uma venda nos seus olhos, o que você faria? E se colocasse uma na sua boca?
Eu (com um pouco mais de desespero): Ah...
Ela: Entendeu, minha querida?
Eu: Acho que sim. Foi muito interessante e instrutivo, mesmo, mas agora eu tenho que ir.
Ela: Claro que tem. Continuamos amanhã (pausa). E traga uma foto de um momento significativo da sua vida.
Eu (a voz já sai meio desafinada): Por quê?
Ela: Porque amanhã... Amanhã vamos discutir a sua relação com seus pais.
Eu (sussurro): Meu Deus!

07 janeiro, 2007

O Senhor de Peruíbe

O garoto corria abrindo caminho na mata. Debaixo do sol escaldante, ele afastou os cachos da testa suada. Um pouco à frente estava uma criança pequena; olhando mais de perto se via que era uma menina, a única por ali.
O menino finalmente conseguiu alcançá-la e segurá-la pela cabeça (o que a fez ficar vermelha de raiva até as orelhas).

— Eu sou o Caio – Ele olhou para a pessoinha se debatendo embaixo da sua mão. Então era uma menina. Seus cabelos cacheados louros (tá bom, castanho claros) estavam presos em um rabicho na nuca. Ela tinha lábios grossos, que se encontravam entreabertos, enormes olhos verdes e as bochechas salpicadas de sardas. Não, ele não ia se amedrontar com aquele bico e aquelas sobrancelhas franzidas!

— E você, qual é o seu nome?

— Que te importa? – ela cruzou os braços emburrada – Na escola me chamam de Porquinha.

— Porquinha?! – ele caiu na gargalhada, se distraindo e dando à garota uma chance de roubar o chapéu de palha que se encontrava sobre sua cabeça.

— É, Porquinha. E com muito orgulho! Por sinal, os porcos são animais muito limpos, mais que os gatos.

— Desculpa, eu não quis ofender.

Os dois caminharam lado a lado em direção à praia. O mar azul estava calmo e a brisa aliviou o calor dos dois depois da corrida. Eles seguiram ao longo da orla; atrás deles a praia seguia até onde a vista alcançava. Na outra direção, eles encaravam uma montanha, o ponto mais alto visível. E à esquerda, o mar se estendia sem o menor sinal de civilização até o horizonte.

— Meu pai me diz que eu não posso tomar muito Sol se não eu posso ficar com câncer de pele. Vamos até aqueles coqueiros ali na frente.

— Você vai queimar o seu rabinho, Porquinha? – e ele começou a rir dela enquanto ela cruzava os braços e fechava a cara de novo. – Desculpa – ele balbuciou tentando se controlar – O que nós precisamos mesmo é nos organizar, porque os outros não podem ficar perdidos por aí, sozinhos, especialmente os menores. Nem nós, imagina o que pode nos acontecer num lugar como esse, os animais selvagens. E ainda sem adultos para...

— Você sabe o que aconteceu com o piloto?

— Não, eu acho que ele deve ter pulado do avião antes do acidente. Mas veja bem, eu até entendo o lado dele, não haveria pára-quedas suficientes para todos os meninos, ele só estava tentando salvar sua própria vida. Ele pode ter filhos que...

— E os outros meninos? – interrompeu Porquinha de novo.

— Eu acho que ouvi uns gritos e vi alguns garotos perto do avião logo depois da queda.

Nesse tempo eles já tinham alcançado os coqueiros, que rodeavam uma lagoa razoavelmente grande, que parecia ser profunda, mas tinha águas claras. Porquinha, tendo aprendido a lição, não quis deixar Caio continuar:

— Você não quer dar um mergulho, não?

Ele achou a idéia boa e começou a tirar as roupas (ué, eles estavam fugindo da guerra, não dava pra pegar sunga e tal). Enquanto a menina, que estava sem disposição de nadar, se acomodava embaixo de um dos coqueiros, gritava para seu companheiro:

— E enquanto você estiver na água, por que você não pensa em um bom jeito de chamar os outros?

A água estava quente e Caio não se refrescou muito. Mesmo assim, o mergulho valeu a pena, o menino encontrou um tesouro, brilhando na areia no fundo da piscina. Uma concha delicada, branca, fina, porém resistente, bela (crianças, essa é a representação da civilização!). Caio achou que se soprasse a concha conseguiria emitir um som que atrairia todas as outras crianças para onde ele estava.

Ele mostrou seu achado a Porquinha, que logo tomou a relíquia de sua mão. Mas seus pequenos pulmões não foram capazes de fazer qualquer som. Mesmo o outro teve dificuldade em produzir algo sem ficar vermelho e ofegante. A nota que ressoou por toda a praia foi clara e profunda, lembrando a chaminé de um navio zarpando.

Pouco a pouco, meninos de todas as idades começaram a surgir da mata em todas as direções, curiosos para saber de onde vinha aquele clamor. Os que chegavam se deparavam com Caio, segurando sua poderosa concha, com os cabelos castanhos escurecidos pela água. Ele estava de pé numa pequena elevação da areia, com uma das mãos na cintura, em uma pose de Peter Pan, e o olhar firme, corajoso.

Os moleques, a princípio barulhentos e bagunçados, se sentaram em troncos velhos de coqueiros ou mesmo no chão como os alunos diante do professor. O mestre, por sua vez, encarou aqueles que paravam em sua frente; depois de se certificar de que ninguém mais se aproximava ele resolveu iniciar seu plano de civilizar aquele grupo.

Em primeiro lugar, ele propôs que cada um dissesse seu nome. Era uma pena que não tivessem papel, se não eles poderiam anotar tudo e fazer uma chamada a cada manhã.

Caio começou, ele mesmo se apresentando. Depois Porquinha, todos olharam assustados para aquela intrusa; mas ela se entrosou rápido. Havia também um menino de óculos (e esse é o símbolo da sabedoria): Manfrim; outro com um cabelo grande e esquisito que cobria metade da cara; um par de gêmeos, não idênticos mas muito próximos, tanto que ficaram conhecidos como Bacchiemarcel, como se fossem uma pessoa só (hahaha, a vingança é doce); e muitos mais. Bacchi não se lembrou de metade.

De repente, as apresentações foram interrompidas pelo choro de um dos meninos mais novos. Ele se jogara no chão, encolhido e gritava:

— O monstro! O monstro serpente!

Caio se aproximou, um corredor silencioso se abriu para ele.

— Mas que mostro? O que aconteceu?

— Eu vi ele saindo do meio das plantas.

Porquinha chegou em seguida e tentou acalmá-lo perguntando quem ele era.

— Denis (...). Av. (...). São Paulo. 3000-0000. Denis (...). Av. (...). São Paulo. 3000-0000...

Até que ele caiu no sono. Os outros começaram a rir do pobre Denis, só que com certo nervosismo por causa da idéia de um monstro na floresta. Eles deixaram o garotinho aos cuidados de Porquinha e voltaram sua atenção para uma mancha preta que vinha pela praia.

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06 janeiro, 2007

Manifesto de uma Agregada - Anexo III

Tema de São Paulo
Sinfonia Paulistana

São Paulo
Que amanhece trabalhando
São Paulo, que não sabe adormecer
Porque durante a noite, paulista vai pensando
Nas coisas que de dia vai fazer
São Paulo, todo frio quando amanhece
Correndo no seu tanto o que fazer
Na reza do paulista, trabalho é um Padre-Nosso
É a prece de quem luta e quer vencer

Começou um novo dia, já volta
Quem ia, o tempo é de chegar
Do metrô chego primeiro, se tempo é dinheiro
Melhor, vou faturar
Sempre ligeiro na rua, como quem sabe o que quer
Vai o paulista na sua, para o que der e vier
A cidade não desperta, apenas acerta a sua posição
Porque tudo se repete, são sete
E às sete explode em multidão:
Portas de aço levantam, todos parecem correr
Não correm de, correm para
Para São Paulo crescer

Vão bora, vão bora, olha a hora
Vão bora, vão bora, vão bora, vão bora
Olha a hora, vão bora, vão bora, vão bora
Vão bora, vão bora, olha a hora
Vão bora, vão bora, vão bora, vão bora
Olha a hora, vão bora, vão bora, vão bora

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04 janeiro, 2007

Manifesto de uma Agregada - Parte III



Que saudades do meu manifesto! Contudo, me desanima saber que alguns leitores confundem qualidade e quantidade... A eles, só desejo o meu desprezo.

Nas minhas idas e vindas, foi na primeira série que conheci a pessoa que me acolheu e ofereceu abrigo nas noites frias de São Paulo. Sempre com uma bicama reservada para meu corpo cansado e uma toalha para um banho quente. A nostalgia não me pertence e considero textos lineares pouco originais, portanto, chego ao presente.

Se você estiver lendo, acredito que – por vários motivos e fatos – neste ano, não usufruirei de seu coração solidário e de sua casa (onde o Sol invade pela janela e se despede ao entardecer).
Agradeço o acolhimento.

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Latrina Fashion

A notícia já saiu faz um tempo, mas mesmo assim merece um espaço nesta humilde Latrina.

02 de junho, 2006 - 09h59 GMT (06h59 Brasília)

O pretinho do 'seu' Manuel
Finalmente chegou a Londres! Eu, assim como tantas outras pessoas refinadas, aguardávamos pressurosos a chegada. Afinal, Londres, Paris e Nova York sempre foram cidades que se gabaram de adotar o que há de melhor e mais chique em matéria de… tudo!

Em Londres, depois de um tempo imperdoável, já se encontra à venda o papel higiênico preto, essa inestimável invenção portuguesa que já data de uns dois ou três anos e que revolucionou o mercado do papel higiênico em Portugal.

Sim, assim como os pastéis de nata de Belém e o bacalhau à Lagareiro, o papel higiênico preto, conhecido pela marca “Renova Black”, pode ser encontrado no novo e chiquérrimo armazém de luxo da Harrods, o chamado “102”.

Mais: a filha de Paul McCartney, Stella, dona de boutiques finíssimas, já conta em suas prateleiras com o “Renova Black”, que fez um enorme sucesso, agora mesmo, em abril, quando do aniversário de Uma Thurman. Não se falou de outra coisa durante e depois a comemoração do “niver”.

Conforme sabemos, estar na moda dá um trabalhão e sai por uma nota. Ter o disco do momento, a marca de televisão certa, usar o jeans mais quente e, além do mais, que revistas comprar, que jornais e colunas ler, tudo isso é barra.

O “Renova Black” constitui, no momento, a coqueluche, por assim dizer, nas altas e médias camadas da sociedade britânica. A revista deste ano, a “Grazia”, recomenda o “Renova Black” como a última palavra em matéria de acessório de elegância, se papel higiênico pode ser acessório. Uma redatora da publicação chegou a fazer a inevitável comparação: o “Renova Black” é o equivalente, para os dois sexos, ao “pretinho da Chanel”.

Para quem estiver muito, mas muito mal informado, eu (e não a “Grazia”) explicamos: o “pretinho da Chanel” é aquele vestido básico, datado de 1926, simples e elegante, como tudo que levava a grife da estilista francesa (Chanel N. 5 é outra marca registrada sua), e que acabou, para todo o sempre, sinônimo de sofisticação sem complicação.


E vamos de preto…
Segundo a lenda, que já começa a ser divulgada pela mídia, o “Renova Black” foi concebido, ou bolado, por Paulo Miguel Pereira da Silva, presidente da Renova (que, acredito, só trabalhava com o papel higiênico em suas cores tradicionais: branco, rosa, azul claro etc.), que, num lance típico de gênio, observou o uso circense, para fins ditos de humor, durante um espetáculo do “Cirque du Soleil”, do papel higiênico preto.

Segundo o diretor de vendas da “Renova”, José Manuel Pinheiro, foi quase que “uma epifania” quando o brilhante empresário Pereira da Silva se deu conta de que os produtos de consumo não podiam e nem deveriam evitar o poder do “showbiz”.

Foi um sucessão em Portugal. Pegou em Nova York e, agora, por certo pegará em Londres. Já há mesmo um relações públicas cuidando da divulgação e da imagem do imaginativo produto. Chama-se Kelley Blevins, mestre de “marketing” responsável, entre outras coisas, pelo lançamento, aqui no Reino Unido, do bem-sucedido pirulito espanhol “Chupa Chups”.

Blevins jurou de pé juntos (creio) que o “Renova Black” servirá para todas as ocasiões e não apenas as memoráveis. Numa de suas peças promocionais, o “Renova Black” pergunta: “O que pode ser mais pessoal e distinto do que o discernimento expresso na intimidade de uma privada?”

Uma pergunta que não sei responder. O meta-luxo ainda não bateu em minha mente ou à porta de minha casa.
Para os interessados (na verdade, é inacreditável): http://www.renovaonline.net/you_ipt.html
OBS: A Giulia T. ajudou na elaboração deste post.

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